Veja o filme, leia o livro, alcance a vida

Às vezes uma obra cultural é tão original que provoca um impacto na nossa forma de perceber o Brasil, a cidade, nós mesmos. “Era o Hotel Cambridge” é um destes cortes no tecido do tempo. Não é apenas um filme e um livro, mas um acontecimento.

Na coluna de hoje, no El País:

Cena do filme Era o Hotel Cambridge. DIVULGAÇÃO

Cena do filme Era o Hotel Cambridge. DIVULGAÇÃO

 

– A gente não tá podendo nem cuidar de nós, os brasileiros, e ainda temos que cuidar dos refugiados do Congo, refugiados da Colômbia, dos libaneses e palestinos… É difícil. Na reunião da ocupação do Hotel Cambridge, no centro de São Paulo, os moradores tinham acabado de saber que a juíza concedera a reintegração de posse do prédio. A fala acima é de um brasileiro. Ela revela a tensão sobre quem teria mais direitos entre aqueles que ali estão, e que ali estão porque seus direitos têm sido sistematicamente violados. Um congolês levanta-se e dá uma resposta imediata:

– Se você não sabe, o Brasil lá na ONU faz bonito na política internacional, aí concede refúgio pra nós. Quando nós entramos aqui, é cada um se vira. Nós somos problemas do Brasil, sim, porque Brasil concedeu refúgio.

Outro se levanta:

– Eu sou refugiado palestino. Vocês são refugiados brasileiros no Brasil.

Carmen da Silva Ferreira, a líder da Frente de Luta por Moradia (FLM) e coordenadora da ocupação do Hotel Cambridge, faz a síntese:

– Brasileiro, estrangeiro… somos todos refugiados, refugiados da falta dos nossos direitos.

Leia o texto completo  AQUI

 

 

8M: Pacto contra o ódio

Mulher protesta contra os feminicídios na Argentina DAVID FERNÁNDEZ EFE (Reprodução do El País)

Mulher protesta contra os feminicídios na Argentina DAVID FERNÁNDEZ EFE (Reprodução do El País)

É importante perceber onde hoje existe potência. E especialmente a potência de criar pactos que permitam recriar os laços sociais. Prepara-se para esta quarta-feira, 8 de Março, uma greve internacional de mulheres, organizada por ativistas de mais de 40 países. O movimento surgiu a partir das greves feitas na Polônia e na Argentina no ano passado (escrevo sobre elas aqui) e também a partir da marcha das mulheres contra Trump, nos Estados Unidos, assim como outras manifestações pelo mundo. Os manifestos e convocatórias propõem um novo ciclo do feminismo, capaz de articular várias lutas. Esta agenda expandida é a parte mais interessante: as mulheres na produção, no trabalho remunerado, reivindicando melhores condições de trabalho e salários equivalentes, mas as mulheres também no trabalho não remunerado dentro de casa e no trabalho da reprodução, reivindicando direitos reprodutivos; as mulheres contra o feminicídio, contra a violência doméstica, contra o estupro e outras violências de gênero, mas também um feminismo contra o racismo, a xenofobia, a homofobia e a transfobia. É também uma posição contra “o ataque neoliberal em curso sobre os direitos sociais e trabalhistas”, como diz o manifesto assinado por intelectuais americanas, entre elas Angela Davis.  A internacionalização da greve é geográfica, mas também simbólica: ela supera as fronteiras ao propor um feminismo atravessado por todas as questões cruciais deste tempo. Assim, as convocatórias estão chamando todas as mulheres, o que significa incluir também as mulheres trans. No Brasil, onde há articulações significativas em algumas cidades e quase inexistentes em outras, é forte a oposição à reforma da previdência proposta pelo governo Temer, já que ela poderá ter grande impacto sobre todos e especialmente sobre as mulheres mais pobres, a maioria delas negras. Mas, como qualquer movimento que pretenda ganhar as ruas, o que de fato acontecerá neste 8 de março é uma incógnita. Ni Una Menos, o mote da greve argentina, se expandiu pelo mundo. Nem uma a menos é um pacto de vida. É também um pacto contra o ódio.

Nos vemos nas ruas, no 8M!

O nada e o ódio

As mortes de Maria e de Marisa expõem a tragédia de ontem e a de hoje

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A ex-primeira dama Marisa Letícia Lula da Silva FOLHAPRESS (Reprodução do El País)

Há algo de trágico na morte de Maria e de Marisa, mas esta tragédia diz respeito menos a elas e mais ao que somos e ao que nos tornamos como sociedade. É preciso lembrar antes que nossa vida de espasmo em espasmo apague a extrema gravidade do que foi exposto. E do que segue em vigor. É preciso fazer memória para resistir ao apagamento. E resistir à normalização do ódio.

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Maria de Lourdes da Silva

 

Leia a coluna completa no El País