O próximo passo é revogar oficialmente a Lei Áurea, como disse o humorista José Simão. E o pior é que no Brasil de hoje o humor parece não ser mais possível, porque o absurdo e o inacreditável acontecem dia após dia.
A Câmara discute agora as “mudanças específicas para os trabalhadores rurais”. Parem 5 minutos e leiam a proposta (http://www.valor.com.br/…/leis-do-trabalho-rural-devem-mudar), mas leiam com toda atenção, porque querem que o Brasil volte ao tempo em que não havia salário:
1) os trabalhadores podem ser pagos mediante “remuneração de qualquer espécie” e não apenas por salário. Isso significa que as pessoas podem voltar a trabalhar por casa e comida – e isso dentro da lei;
2) aumento de até 12 horas da jornada diária, por “motivos de força maior”;
3) o repouso semanal dos trabalhadores pode ser substituído por um período contínuo de até 18 dias de trabalho seguidos;
4) passa a ser possível a venda integral das férias no caso de trabalhadores que morem no emprego.
Isso tudo é combinado com a restrição do poder da Justiça do Trabalho e do Ministério Público do Trabalho no estabelecimento de novas normas e na interpretação das já existentes.
Imaginem o poder de negociação que um trabalhador terá morando nas terras do patrão.
O autor da proposta é o deputado Nilson Leitão (PSDB), líder da bancada ruralista.
Para os ruralistas, a Princesa Isabel deve ser “esquerdista”.
Na minha coluna desta semana, no El País, abro com a pergunta: Quanto mal o governo-9%-de-aprovação-Temer ainda pode fazer?
A resposta é muito. Mas muito mesmo. Conquistas de décadas estão sendo apagadas de um dia pro outro. E ainda tem muito tempo até 2018.
Prestem muita atenção em quem está chamando trabalhador exercendo seu direito legítimo de greve contra as reformas trabalhistas e da previdência de “vagabundo”.
Estamos voltando ao passado. E conhecemos o rosto dos senhores de escravos, mesmo que agora eles usem botox.