Como enfrentar o sangue dos dias

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A imagem de Marielle Franco na escadaria da Rua Cristiano Viana, no bairro de Pinheiros, em São Paulo (Foto: João Luiz Guimarães)

Dois ribeirinhos, Chico Caititu e Ageu Lobo, da comunidade Montanha e Mangabal, no Tapajós, estão ameaçados de morte porque colocaram o seu corpo entre a floresta e o crime organizado, fazendo o que o Estado deveria fazer e não faz. Precisam de proteção para não morrer.
Em todos os lugares onde eu vou, as pessoas estão com muito medo.
As ameaças se alastram pelo país. E têm se concretizado, destruindo os corpos.
Nesta coluna, penso sobre o que me parece urgente: a conexão das periferias. Marielle Franco, a vereadora negra da Maré, tem muito mais em comum com Chico Caititu, a liderança ribeirinha do Tapajós, do que com aqueles que os destroem – ou querem destruir – à bala.

Ageu Lobo (Foto: Lilo Clareto)

Ageu Lobo (Foto: Lilo Clareto)

Chico Caititu (Foto: Lilo Clareto)

Chico Caititu (Foto: Lilo Clareto)

 Leia na minha coluna no El País 

Brasil llora por una mujer negra, lesbiana y feminista

Minha estreia como colunista de internacional no jornal El País impresso, em Madri.

Los tiros que mataron a Marielle Franco el 14 de marzo, en Río de Janeiro, atravesaron más que su cuerpo. Contra las expectativas de quienes la ejecutaron, las balas alcanzaron la ley no escrita de que los negros pueden morir. Siete de cada diez personas asesinadas en Brasil son negras. Marielle, de 38 años, sería una más en desplomarse sobre el asfalto, sin sonido ni lamento. Pero no lo fue. Esta vez, el clamor por la muerte de una mujer negra, lesbiana y feminista ha provocado una ruptura. El cuerpo destrozado de Marielle Franco se ha convertido en un tótem. Y, como tótem, vive.

Leia o texto completo no El País

 

A invenção da infância sem corpo

Imagem da performance "La Bête", no Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo HUMBERTO ARAÚJO (DIVULGAÇÃO)

Imagem da performance “La Bête”, no Museu de Arte Moderna de São Paulo/ Foto: Humberto Araújo (Divulgação)

Aqueles que que violentaram a performance do museu sabem que as crianças têm corpo. E que os corpos infantis sentem prazer também erótico. E isso é natural. Cabe aos adultos encontrar limites diante dessa realidade.

O que deve nos preocupar é outro fato: o de que os adultos atuais se sentem tão frágeis, tão incapazes de se colocar limites diante dessa percepção, que precisam eliminar a dimensão erótica do corpo das crianças para que não se sintam compelidos a atacá-las. Neste sentido, a possibilidade tecnológica de viver uma vida sem corpos com nossos brinquedos digitais acirrou um nó que é bem mais enraizado. Exatamente porque a vida humana sem corpo é só uma fantasia. E uma fantasia bastante desesperada, como o acontecimento do museu demonstra.

É também por isso, por causa do medo dos corpos, que o debate está interditado. Ensinar a ter medo do corpo do outro, ensinar que a experiência com o corpo do outro é sempre uma violência, ensinar a punir quem tenta romper o muro entre os corpos, são as lições que temos dado às crianças. E com a desculpa perversa de protegê-las.

Leia na minha coluna no El País