O “mártir” governa

Enquanto o novelão se desenrola, capturando e desviando a atenção do país, o “mártir” governa. E como governa. O projeto autoritário que Bolsonaro representa avança a cada dia sobre o Brasil com velocidade assombrosa.

Bolsonaro e o Comandante do Exército, Edson Pujol, durante cerimônia em Brasília no dia 17 de abril (Sérgio Lima/ AFP/Reprodução do El País)

Bolsonaro e o Comandante do Exército, Edson Pujol, durante cerimônia em Brasília no dia 17 de abril (Sérgio Lima/ AFP/Reprodução do El País)

Quem aponta “paralisia” na antipresidência de Bolsonaro está cego – ou se faz de cego – para a velocidade assombrosa da implantação do projeto autoritário

Leia no El País em português e em espanhol

 

Cem dias sob o domínio dos perversos

Os 100 dias do Governo Bolsonaro fizeram do Brasil o principal laboratório de uma experiência cujas consequências podem ser mais destruidoras do que mesmo os mais críticos previam. Não há precedentes históricos para a operação de poder de Jair Bolsonaro (PSL). Ao inventar a antipresidência, Bolsonaro forjou também um governo que simula a sua própria oposição. Ao fazer a sua própria oposição, neutraliza a oposição de fato. Ao lançar declarações polêmicas para o público, o governo também domina a pauta do debate nacional, bloqueando qualquer possibilidade de debate real. O bolsonarismo ocupa todos os papéis, inclusive o de simular oposição e crítica, destruindo a política e interditando a democracia. Ao ditar o ritmo e o conteúdo dos dias, converteu um país inteiro em refém.

A violência de agentes das forças de segurança do Estado nos primeiros 100 dias do ano, como a execução de 11 suspeitos em Guararema (SP), pela polícia militar, e os 80 tiros disparados contra o carro de uma família por militares no Rio de Janeiro, pode apontar a ampliação do que já era evidente no Brasil: a licença para matar. Mais frágeis entre os frágeis, os ataques a moradores de rua podem demonstrar uma sociedade adoecida pelo ódio: em apenas três meses e 10 dias, pelo menos oito mendigos foram queimados vivos no Brasil. Bolsonaro não puxou o gatilho nem ateou fogo, mas é legítimo afirmar que um Governo que estimula a guerra entre brasileiros, elogia policiais que matam suspeitos e promove o armamento da população tem responsabilidade sobre a violência.

Este artigo é dividido em três partes: perversão, barbárie e resistência

Jair Bolsonaro durante cerimônia de promoção de generais no Palácio do Planalto, em Brasília (Foto: Adriano Machado/Reuters/Reprodução do El País)

Jair Bolsonaro durante cerimônia de promoção de generais no Palácio do Planalto, em Brasília (Foto: Adriano Machado/Reuters/Reprodução do El País)

A vida no Brasil de Bolsonaro: um Governo que faz oposição a si mesmo como estratégia para se manter no poder, sequestra o debate nacional, transforma um país inteiro em refém e estimula a matança dos mais frágeis

Leia na minha coluna no El País 

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O regresso ao passado que nunca existiu

A falsificação do passado como projeto de governo transforma o Brasil na vitrine radical de um fenômeno mais amplo. Do Brexit ao trumpismo, o debate do presente abandonou o horizonte do futuro para se dedicar a passados que nunca existiram.

 Jair Bolsonaro durante um ato em Jerusalém (Foto: Ronen Zvulun/Reuters/Reprodução do El País)

Jair Bolsonaro durante um ato em Jerusalém (Foto: Ronen Zvulun/Reuters/Reprodução do El País)

El regreso al pasado que nunca existió

 

Solo la política puede articular un esfuerzo global reconociendo la realidad común de una especie que necesita unirse más allá de las fronteras

Leia no El País (em espanhol)