Aqueles que que violentaram a performance do museu sabem que as crianças têm corpo. E que os corpos infantis sentem prazer também erótico. E isso é natural. Cabe aos adultos encontrar limites diante dessa realidade.
O que deve nos preocupar é outro fato: o de que os adultos atuais se sentem tão frágeis, tão incapazes de se colocar limites diante dessa percepção, que precisam eliminar a dimensão erótica do corpo das crianças para que não se sintam compelidos a atacá-las. Neste sentido, a possibilidade tecnológica de viver uma vida sem corpos com nossos brinquedos digitais acirrou um nó que é bem mais enraizado. Exatamente porque a vida humana sem corpo é só uma fantasia. E uma fantasia bastante desesperada, como o acontecimento do museu demonstra.
É também por isso, por causa do medo dos corpos, que o debate está interditado. Ensinar a ter medo do corpo do outro, ensinar que a experiência com o corpo do outro é sempre uma violência, ensinar a punir quem tenta romper o muro entre os corpos, são as lições que temos dado às crianças. E com a desculpa perversa de protegê-las.
Leia na minha coluna no El País