A fronteira é um espaço de sobreviventes, que já conheceram o pior de vários mundos, sofreram estigmas, preconceitos e indignidades, e estão lutando por um lugar. Em condições favoráveis, são calorosos e solidários. Quando algo ameaça a sua posição, permanentemente instável, são pragmáticos. Fronteira é um não lugar de humanidades ferozes. Quem se torna elite nessas regiões é porque aprendeu a manipular paixão e medo.
A imagem dos venezuelanos entrando e entrando, desesperados, miseráveis e famintos, é a imagem que um migrante mais teme para si mesmo. É também a prova de que a estabilidade é sempre provisória, de que é possível perder tudo mais uma vez. É a evidência viva, encarnada, de que não há lugar seguro, de que o pertencimento é sempre precário. De que do outro lado da borda, o abismo espreita com olhos injetados de sangue. Quem viveu escorregando de todos os mapas sente a dor dessa experiência no corpo.
Os venezuelanos encarnam o pesadelo real de que toda estabilidade é provisória e o pertencimento é sempre precário
Leia na minha coluna no El País