Dom Erwin Kräutler, bispo do Xingu, vive há mais de uma década com escolta policial para não ser assassinado por sua luta pela floresta amazônica, pelos povos tradicionais e pelos mais pobres. Ao ver a ilha de Arapujá, cartão-postal de Altamira, ser destruída para dar lugar à hidrelétrica de Belo Monte, escreveu essa carta-desabafo. Arapujá é apenas uma das muitas ilhas que desaparecerão se Belo Monte começar a operar.
Choro, não sei se é de raiva, de revolta ou de tristeza. Creio que é pelas três razões ao mesmo tempo. É um profundo pesar, uma dor compungente, dilacerante. Sinto-me como alguém que é açoitado sem dó e piedade. E é inocente. Depois da tortura, já coberto de hematomas, que adianta provar a inocência!
E lá em cima, nos gabinetes confortáveis da capital federal, defendem a legalidade da destruição do Xingu. Invocam a tese do “interesse nacional“.
Você pode imaginar o que significa para mim o afogamento da ilha Arapujá? Durante cinquenta anos a contemplei com carinho, sempre que a mirava (Alta-mira) da janela de meu quarto ou escritório na “rua da frente”. E oitenta anos atrás, já meus tios Eurico e Guilherme se encantaram com essa beleza!
É um pedaço de mim que agora vai para o fundo.
Erwin Kräutler
Bispo do Xingu
Leia a entrevista com Dom Erwin Kräutler:
04/06/2012
Dom Erwin Kräutler: “Lula e Dilma passarão para a História como predadores da Amazônia”