Para controlar a pandemia é preciso parar Bolsonaro: Brasil descobriu que seu presidente não é “apenas” um golpista, é também um maníaco.
Leia na minha coluna no El País, na Espanha (em espanhol)
E aqui, a versão em português:
A pandemia de Covid-19 mostrou que aqueles que corrompem a verdade e falsificam a realidade precisam ser parados porque colocam em risco a sobrevivência da população. Nenhum caso global é mais notório do que o de Jair Bolsonaro, o antidemocrata que governa o Brasil. Ele já horrorizava uma parcela da humanidade pelas suas declarações racistas e pela destruição da Amazônia. No domingo, revelou-se um demente ao colocar os brasileiros em risco e desrespeitar as regras de proteção estabelecidas pelo seu próprio Ministério da Saúde. Bolsonaro juntou golpismo, negacionismo e ameaça à vida em apenas um ato.
Notório negacionista climático, Bolsonaro negou também a pandemia: durante uma visita a seu ídolo Donald Trump, afirmou que era uma “fantasia” da mídia . Em quarentena por ter entrado em contato com pelo menos 15 pessoas cujo teste deu positivo para o coronavírus, o antidemocrata usou uma máscara para fazer uma live. Pediu que, devido à pandemia, os extremistas de direita que o apoiam suspendessem a manifestação contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal. Antes, havia estimulado e divulgado o protesto.
A maioria achou que Bolsonaro finalmente tivera um encontro inesperado com a realidade, compreendido que a pandemia é real e que seu apreço pela autoverdade poderia causar mortes também bem reais. Nada. No domingo, Bolsonaro compareceu à manifestação, num ato explícito de golpismo, e descumpriu as regras de seu próprio ministro da Saúde ao estimular a aglomeração de pessoas em plena pandemia, manipular celulares de seguidores, tirar selfies com eles e apertar suas mãos.
Além de afrontar os poderes democráticos, Bolsonaro colocou a população em risco e deu o pior exemplo que um chefe de Estado poderia dar neste momento gravíssimo. Bolsonaro fez mais: chamou de “extremismo” e “histeria” as medidas tomadas pelo seu próprio governo para controlar o vírus. Na segunda-feira, insistiu: “Esse vírus não é tudo isso”. O antiestadista ainda declarou que tinha “direito” a apertar mãos e, caso tivesse sido infectado, a “responsabilidade” era dele. “Ninguém tem nada a ver com isso”, arrotou.
A parte do Brasil que ainda não tinha entendido finalmente entendeu, em plena pandemia, que não tem “apenas” um golpista no poder, tem também um maníaco. E agora?
Como as instituições e a sociedade brasileira vão reagir diante da ameaça representada pelo déspota eleito vai determinar o futuro imediato do país. Num mundo globalizado, porém, este não é um problema apenas do Brasil. É um problema do planeta. A mesma irresponsabilidade criminosa que está acabando com a Amazônia agora coloca em risco o controle da pandemia.
O Covid-19 mostrou até que nível de perversão os negacionistas podem chegar para manter seu projeto de poder. Aqueles que negaram o risco da pandemia são os mesmos que negam a crise climática. O vírus eventualmente vai passar, deixando um rastro de mortes. A catástrofe climática só está começando.