Ela acordou gritando na madrugada de segunda-feira.
— O sexo é a besta do homem!
Ele deu um salto.
— Minha besta? Que homem? Que besta? Onde?
Mesmo no escuro, sentiu seu olhar reprovador.
— Do humano… Do humano!
Ah. Acordou.
Fazia três meses, doze dias, hum… conferiu no relógio… quatro horas e… olhou de novo… sete minutos que ela não dava. E agora isso. Encolheu-se na cama. Agora nunca mais. O professor de musculação já tinha feito piadinhas com o aumento anormal do bíceps do seu braço direito.
Ela sentou-se na cama. Abraçada ao travesseiro. Olhos esgazeados. Ah, Deus, por que ele tinha se apaixonado por uma mulher tão intensa. Vestiu sua melhor cara de urso panda. Hum, até um panda deve transar mais do que eu, pensou.
Que foi, fofoletinha?
O sexo, ela disse. Descobri.
Hum, disse ele. Neutro. (Neutro, sempre neutro, mantenha-se assim.)
Tenho medo da besta dentro de mim.
Hum?, disse ele, pensando se isso podia significar alguma chance de transar antes de o sol nascer.
É isso, entende. Dentro de mim mora uma besta. Que sou eu, também. Mas tenho medo dela.
Hum!, animou-se. O suficiente para arriscar: mas é uma besta, assim, muito besta mesmo? Devaaaaaassssssssssa…?
Sentiu o pinto ficar duro.
Não é a Paris Hilton, seu bocó.
Bocó? Só a mãe dele ainda falava esta palavra. Ah, sim. E a dela, claro.
Tenho medo que a besta me engula, entende. Que tome conta de mim.
Huuuuummmmmm… Por mim ela pode me engolir. Não se preocupe comigo. Bota logo este animal pra fora!
Bocó!!! Você não me entende, mesmo. Só pensa em sexo.
Mas eu não quero pensar, pensou ele. Quero fazer! É você que só pensa em sexo.
Vou levar para a análise, ela disse. Meu analista vai entender minha besta.
Claro, o analista dela consegue comer a própria mulher, pensou.
Ela voltou a deitar. De costas para ele, bem longe.
Xuxuquinha, a gente pode lidar com esta besta. Juntos, eu e você. A gente começa bem devagarzinho, sem compromisso…
Tarde demais.
Ela já ressonava.
Ele fechou os olhos. Exausto por mais uma noite de sexo selvagem.