Laertar-se é verbo

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Foto: Divulgação

Amigos,

Aqui vai o meu convite para estarem comigo neste momento ao mesmo tempo tão alegre, ao mesmo tempo tão frágil, ao mesmo tempo tão trêmulo que é o de mostrar algo que se criou (neste caso coletivamente) para o mundo.

Queria muito, mas muito mesmo, garantir o ingresso de cada um de vocês na sessão que escolhessem, mas infelizmente isso não é possível.

Então, aqui vão as coordenadas.

A única oportunidade de assistir ao documentário “Laerte-se” na tela grande é no festival É Tudo Verdade, na mostra O Estado das Coisas.

Aqui, as sessões em São Paulo e no Rio de Janeiro:

A estreia mundial será no próximo sábado, 22 de abril, às 23h15, no Reserva Cultural, em São Paulo.
A segunda e última sessão em São Paulo será no Centro Cultural São Paulo, às 18h, no dia 29 de abril (sábado).
No Rio, haverá duas sessões, ambas no Espaço Itaú Botafogo:
em 25/4 (terça-feira), às 22h, na sala 3
e em 28/4 (sexta-feira), às 19h, na sala 06

Os ingressos são gratuitos e podem ser retirados na bilheteria do cinema uma hora antes de cada sessão.

Mais informações aqui: http://etudoverdade.com.br/br/programacao/?

Em 19 de maio, o filme estará disponível na Netflix para 190 países.

E fico muito contente por isso, porque os documentários têm pouco ou nenhum espaço nos cinemas brasileiros. Meus dois documentários anteriores, “Uma História Severina” e “Gretchen Filme Estrada”, andaram pelo mundo, mas não pelos cinemas brasileiros. Com a Netflix, todos poderão ver. E a gente faz um filme para que ele possa ser visto e debatido, para que ele produza algum movimento interno nas pessoas. Para que ele tenha sua própria aventura no mundo.

Laerte-se é dirigido por mim e por Lygia Barbosa da Silva. O roteiro também é assinado por nós e por Raphael Scire. A montagem é de Nani Garcia. A produção é da Lygia e da Alessandra Côrte. O documentário é uma produção da Tru3Lab para Netflix.

Se puderem ajudar a divulgar, agradeço.

abraços emocionados, porque a gente se emociona quando faz algo que ganha vida.

Me despeço com uma sinopse:

Laertar-se é verbo. Ao mesmo tempo que impele ao movimento, como um imperativo de vida, se volta para si, numa interrogação persistente. Mas aquela que retorna não é o mesmo que foi. E isso a cada volta. Ao acompanhar Laerte Coutinho em seu percurso de investigações sobre o que é ser uma mulher, este documentário também se faz ponto de interrogação. Ou apenas espaço de possíveis.
Neste filme, Laerte conjuga um corpo no feminino, esquadrinha conceitos e preconceitos. Não busca identidade. O que conjura são desidentidades. Laerte é filho e filha, é vó e vô. É também pai, de três filhos, órfão de um. É ainda quem leva a filha ao altar como pai e como mulher. E quem, mesmo sem útero, gesta. Envia suas criaturas para confrontar a realidade na ficção dos quadrinhos como uma vanguarda de si. E, nas ruas, ficciona-se como personagem real.
Laerte, pessoa de todos os corpos e de nenhum, embaralha qualquer binarismo. Ao indagar sobre Laerte, este documentário escolhe vestir a nudez, aquela que vai além da pele que se habita.

 

No fim do mundo de Alice Juruna tem Peppa Pig

Qual é o impacto de viver dia após dia acreditando que uma barragem pode se romper a qualquer momento e afogar toda a vida, o mundo inteiro que se conhece? E acreditando que uma nova ameaça avança sobre a aldeia em ritmo acelerado? É possível perceber que o impacto desta experiência traumática é enorme. Seria sobre qualquer pessoa. Mas como dimensionar esse impacto sobre um povo tradicional, cujo próprio dizer de si contém o rio, quando o rio que sempre foi vida se torna uma ameaça de morte? São perguntas que o Estado brasileiro e a Norte Energia um dia terão que responder diante da humanidade.

Alice Juruna, em fotografia de 2015, salta para mergulhar no rio Xingu. LILO CLARETO

Alice Juruna, em fotografia de 2015, salta para mergulhar no rio Xingu. LILO CLARETO

Impactados por Belo Monte, ameaçados por Belo Sun, os indígenas da Volta Grande do Xingu acordam a cada dia com o temor de que a catástrofe final chegará no próximo segundo

É difícil explicar o que é etnocídio. Morte cultural de um povo. Parece sempre abstrato, coisa de antropólogo. Mas Luane Alice pode nos contar como um jeito de ser e de estar no mundo morre. E contar também que é bem menos abstrato do que parece. Há menos de dois anos, em setembro de 2015, a canoa onde eu navegava na Volta Grande do Xingu alcançou Muratu, a aldeia dos Juruna. Crianças indígenas saltavam do barranco para o rio, numa alegria que há muito eu não via em crianças urbanas. De fato, talvez nunca tenha visto em crianças urbanas. Por alguns instantes, elas voavam. Foi num ponto deste voo que o fotógrafo Lilo Clareto congelou a imagem de Alice, a mais animada delas. Hoje, a imagem segue existindo como arte. E como documento. Mas a vida já não existe.

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Em foto de 24 de março de 2017, Alice (sentada) assiste a desenhos na TV, hoje principal lazer das crianças indígenas, proibidas de se aproximar do rio. LILO CLARETO

Em foto de 24 de março de 2017, Alice (sentada) assiste a desenhos na TV, hoje principal lazer das crianças indígenas, proibidas de se aproximar do rio. LILO CLARETO