Gaúcha de Ijuí, nascida em 1966, Eliane Brum é jornalista, escritora e documentarista. Publicou oito livros no Brasil – sete de não ficção e um romance -, além de participar de coletâneas de crônicas, contos e ensaios. Em 2019, publicou seu primeiro livro de reportagens em inglês, pelas editoras Graywolf, nos Estados Unidos, e Granta, no Reino Unido. The Collector of Leftover Souls foi também traduzido para o italiano e para o polonês. Assina a direção e codireção de quatro documentários. O primeiro deles, Uma História Severina, foi reconhecido por 17 prêmios nacionais e internacionais. Eliane é a jornalista mais premiada do Brasil, segundo levantamento anual feito pelo site especializado Jornalistas & Cia. Em 2021, recebeu o Prêmio Maria Moors Cabot, oferecido pela Columbia University School of Journalism, de Nova York (EUA), o mais relevante prêmio de jornalismo das Américas e o mais antigo do mundo, por sua carreira. É colunista do jornal espanhol El País e colaboradora de vários jornais e revistas da Europa e dos Estados Unidos, como The Guardian e The New York Times.
Jornalista há quase 35 anos e cobrindo a Amazônia há quase 25, Eliane Brum trabalhou em Porto Alegre nos primeiros 11 anos da carreira e em São Paulo nos 17 anos seguintes. Desde 2017, vive e trabalha a partir de Altamira, no Médio Xingu, um dos epicentros da destruição da floresta amazônica. É uma das fundadoras da plataforma de jornalismo SUMAÚMA, lançada em setembro de 2022 para “contar histórias que moram na Amazônia, e que acontecem em outras partes do planeta a partir da floresta e da perspectiva de seus vários povos, assim como da melhor ciência do clima e da Terra”.
Eliane Brum trabalhou 11 anos como repórter do jornal Zero Hora, de Porto Alegre, e 10 como repórter especial da Revista Época, em São Paulo. Desde 2010, atua como freelance e faz projetos de longo prazo com populações tradicionais da Amazônia e das periferias da Grande São Paulo. De 2009 a 2013 foi colunista do site da revista Época. Desde 2013 tem uma coluna quinzenal, em português e espanhol, no El País Brasil e El País América. Desde 2018, mantém também uma coluna quinzenal na editoria de Internacional do jornal El País, na Espanha.
Em seu primeiro livro, “Coluna Prestes: o avesso da lenda” (Artes e Ofícios, 1994), pelo qual recebeu o prêmio Açorianos de autora-revelação, Eliane refez, 70 anos depois, a marcha de 25 mil quilômetros da tropa rebelde pelo país, entrevistando 100 pessoas que testemunharam a passagem da Coluna Prestes por povoados e cidades do Brasil. O livro traz o testemunho do que a autora chamou de “o povo do caminho” – aqueles que não eram nem rebeldes, nem governistas –, ampliando a complexidade e a compreensão deste episódio crucial da República Velha.
Em “A Vida Que Ninguém Vê” (Arquipélago Editorial, 2006), Eliane conta pequenas histórias reais sobre o que chama de “desacontecimentos” e sobre pessoas que jamais virariam notícia na pauta convencional do jornalismo, mostrando que toda vida é habitada pelo extraordinário. Neste livro, a autora mostra que não existem vidas comuns, apenas olhos domesticados. A obra foi reconhecida com o Prêmio Jabuti 2007 de melhor livro de reportagem.
Em “O Olho da Rua – uma repórter em busca da literatura da vida real” , Eliane escolhe dez grandes reportagens e conta seus bastidores – dilemas, medos e até mesmo seus erros, vividos no processo do fazer jornalístico. O livro começa com um parto nos confins da Amazônia, pelas mãos das parteiras da floresta – e termina com a autora acompanhando os últimos 115 dias da vida de uma mulher com um câncer incurável, em São Paulo. O livro foi publicado pela Editora Globo, em 2008, e relançado pela Arquipélago Editorial, em 2017. A segunda edição ampliada conta com um posfácio – “Os limites da palavra” – que fala de dois desacontecimentos recentes que levaram a autora a uma profunda investigação sobre o ofício de repórter.
Em junho de 2011, Eliane lançou seu primeiro romance, “Uma Duas” (LeYa Brasil). Nele, aborda o relacionamento entre mãe e filha. Ou como uma filha se arranca do corpo da mãe, já que para uma filha é preciso mais de um parto. Foi sua primeira incursão na literatura de ficção, depois de mais de duas décadas contando histórias reais como repórter. O livro foi finalista dos prêmios Portugal Telecom, São Paulo de Literatura e Jornada Nacional de Literatura (Zaffari-Bourbon). Em outubro de 2014, “Uma Duas” foi lançado pela Amazon, em inglês, no mercado internacional, nos formatos papel e e-book. A tradução para o inglês é de Lucy Graves.
Em julho de 2013, Eliane lançou uma coletânea com 64 de suas 234 crônicas e artigos de opinião publicados originalmente no site da Revista Época. “A Menina Quebrada” (Arquipélago) ganhou o Prêmio Açorianos de Melhor Livro do Ano. Nele, Eliane traça um pequeno retrato deste momento histórico, a partir do seu olhar, abordando temas como o perigo da história única, a medicalização da vida, a ditadura da felicidade, o relacionamento entre pais e filhos mediado pelo consumo, a dificuldade de nossa época com as marcas (as do corpo e também as psíquicas), o envelhecimento e a morte. Escreve também sobre memórias, política e questões socioambientais, em especial as relacionadas à Amazônia.
Em abril de 2014, publicou “meus desacontecimentos – a história da minha vida com as palavras”, quinto livro mais vendido na FLIP (Festa Literária Internacional de Paraty). Neste livro, a menina que flertava com a morte percorre as memórias da infância para compreender como a palavra escrita a salvou. Como repórter e escritora, Eliane sempre investigou a forma como cada um inventa uma vida e cria sentido para seus dias. Em meus desacontecimentos, conta como ela mesma se arrancou do silêncio para virar narrativa. O livro foi relançado pela Arquipélago Editorial em 2017.
Entre as coletâneas da qual participou, destaca-se a obra “Dignidade”, livro internacional que marca os 40 anos da organização humanitária Médicos Sem Fronteiras. O livro foi lançado na Itália em outubro de 2011, pela editora Feltrinelli, e é composto por textos de nove escritores de diferentes partes do mundo, entre eles o prêmio Nobel Mario Vargas Llosa. Cada um dos autores convidados conheceu um projeto internacional da organização. Eliane escreveu sobre o Mal de Chagas na Bolívia, um dos países com maior prevalência da doença no mundo. Seu texto foi traduzido para o italiano por Luca Bacchini. “Dignidade” foi lançado no Brasil em junho de 2012, pela editora LeYa, e foi finalista do prêmio Jabuti 2013, na categoria melhor livro de reportagem. O ensaio de Eliane é assim intitulado: “Os vampiros da realidade só matam pobres”.
Em coletânea publicada primeiro em alemão, na Feira de Frankfurt de 2013, Eliane escreveu um conto sobre futebol: “Raimundo, o dono da bola”. O livro, “Entre as quatro linhas” (DSOP), foi lançado em português no início de 2014. O conto de Eliane se passa na Terra do Meio, na Amazônia. Traduzido por Michael Kegler, foi lançado como e-book em julho de 2014, apenas em alemão.
Em 2019, lançou “Brasil, construtor de ruínas” pela Arquipélago Editorial. Neste livro, narra as transformações de um país que acreditava ter finalmente chegado ao futuro, mas descobriu-se atolado no passado. Partindo das reportagens e artigos de opinião escritos nos últimos anos, especialmente para sua coluna no jornal El País, documenta as mudanças objetivas e subjetivas da eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, o primeiro operário a alcançar o poder, aos primeiros cem dias do governo de extrema-direita de Jair Bolsonaro. Também analisa temas como o crescimento dos evangélicos, o racismo estrutural, a violência que mata os mais pobres, os novos feminismos, a desmemória e o autoritarismo, e interpreta o Brasil a partir da violação da floresta por governos tanto de esquerda quanto de direita. Em 2021, “Brasil, construtor de ruínas” recebeu o Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos na categoria Livro-Reportagem.
Em 2021, publicou “Banzeiro Òkòtó: uma viagem à Amazônia Centro do Mundo“, pela Companhia das Letras. Eliane faz um mergulho profundo nas múltiplas realidades da maior floresta tropical do planeta. Com quase 35 anos de experiência como repórter, há mais de vinte ela percorre diferentes Amazônias. Em 2017, adotou a floresta como casa ao se mudar de São Paulo para Altamira, epicentro de destruição e uma das mais violentas cidades do Brasil desde que a hidrelétrica de Belo Monte foi implantada. A partir de rigorosa pesquisa, denuncia a escalada de devastação que leva a floresta aceleradamente ao ponto de não retorno. E vai além, ao refletir sobre o impacto das ações da minoria dominante que levaram o mundo ao colapso climático e à sexta extinção em massa de espécies. Neste percurso, cruza com vários seres da floresta e mostra como raça, classe e gênero estão implicados no destino da Amazônia e da Terra. Em 2021, “Banzeiro Òkòtó: uma viagem à Amazônia Centro do Mundo” recebeu o 38º Prêmio Direitos Humanos de Jornalismo, ficando em segundo lugar na categoria Grande Reportagem. Em 2022, foi premiado na categoria Livro-Reportagem do 44º Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos.
Em outubro de 2019, seu primeiro livro de reportagens em inglês chegou às livrarias dos Estados Unidos: “The Collector of Leftover Souls” foi editado pela Graywolf, com tradução de Diane Grosklaus Whitty. O livro entrou para a lista dos 10 melhores livros estrangeiros do National Book Award e recebeu resenhas elogiosas nas principais publicações dos Estados Unidos, como a prestigiosa revista New Yorker e o jornal The New York Times. Em novembro de 2019, o livro foi publicado pela Granta, no Reino Unido. Em 2023, o livro “Banzeiro Òkòtó: The Amazon as the Center of the World” foi editado pela Graywolf, nos Estados Unidos, e pela Indigo, no Reino Unido, com tradução de Diane Grosklaus Whitty.
Como documentarista, seu filme de estreia é “Uma História Severina” (2005). O documentário, no qual divide a direção e o roteiro com Debora Diniz, conta a saga da pernambucana Severina, pobre e analfabeta, grávida de um feto anencéfalo, em busca de autorização judicial para interromper a gestação. O documentário teve grande impacto sobre o debate travado na sociedade brasileira para a liberação da interrupção da gravidez, em caso de anencefalia do feto, pelo Supremo Tribunal Federal. O filme foi reconhecido por 17 prêmios nacionais e internacionais.
“Gretchen Filme Estrada” (Mixer), documentário no qual dividiu a direção com Paschoal Samora, foi lançado em 2010. O filme conta a última turnê por circos mambembes do semiárido nordestino e a primeira campanha política da rainha do rebolado à prefeitura da Ilha de Itamaracá, em Pernambuco. Em novembro de 2011, o documentário foi exibido no IDFA (International Documentary Film Festival of Amsterdam).
“Laerte-se“, filme no qual dividiu a direção com Lygia Barbosa da Silva, foi lançado em 2017 em mais de 190 países. Primeiro documentário brasileiro original da Netflix, a obra acompanha a intimidade, as descobertas e os questionamentos de Laerte Coutinho, cartunista que, depois de quase 60 anos como homem, três filhos e três casamentos, apresentou-se como mulher.
Em 2017, Eliane dirigiu o documentário “Eu+1 – uma jornada de saúde mental na Amazônia”, realizado para contar a experiência da Clínica de Cuidado, formada por um grupo voluntário de psicanalistas, psicólogos e uma psiquiatra, que atuaram de forma intensiva por duas semanas junto à população expulsa dos beiradões do Xingu para a construção da Hidrelétrica de Belo Monte. A Clínica de Cuidado faz parte do projeto “Refugiados de Belo Monte”, do qual a jornalista é provocadora e uma das coordenadoras. Eu + 1 é um documentário singelo, feito com recursos limitados, e financiado por meio de financiamento público coletivo na plataforma Catarse.
De 2009 a 2011, Eliane publicou crônicas semanais no site Vida Breve. Eliane Brum faz também conferências e participa de debates no Brasil e no Exterior. Em outubro de 2010, foi palestrante do festival da revista Internazionale, na Itália, assim como em 2016 e 2019. Em dezembro de 2010, foi palestrante na Casa de América, em Madri, na Espanha. Em 2011, participou como palestrante do festival literário de Mântua, na Itália; e, em 2012, do Salão Internacional de Turim. Em maio de 2014, foi escritora-convidada do PEN World Voices Festival, de Nova York, festival literário criado pelo escritor Salman Rushdie, em dois eventos: “Literary Safari” e “Resonances: Contemporary Writers on the Classics”. Em novembro de 2015, fez uma série de palestras e bate-papos na Alemanha, nas cidades de Frankfurt, Munique e Giessen. Em fevereiro de 2016, foi palestrante na Florida International University, em Miami, Estados Unidos.
Em 2017, foi cofundadora do Rainforest Journalism Fund, uma ideia do jornalista britânico Jonathan Watts e de um grupo de jornalistas conectados com a Amazônia convidados por ele, que seria realizada em parceria com o Pulitzer Center. Pensada inicialmente para financiar projetos de reportagem na Amazônia, o RFJ seria estendido também a outras regiões de florestas tropicais. O RJF foi lançado publicamente em 2018. Eliane é conselheira do RJF e também da Agência Pública de Jornalismo Investigativo.
Em 2018, Eliane fez duas palestras sobre a situação política do Brasil em Berlim, a convite da Heinrich Böll Foundation. Em maio de 2019, deu uma palestra na universidade de Dartmouth, nos Estados Unidos, sob o título: “Por que a Amazônia é o centro do mundo. E por que isso significa que estamos ferrados”. Também em maio daquele ano foi palestrante na Universidade de Harvard, com o tema “A Amazônia e a criação de futuro”.
No Brasil, Eliane participou de diversos festivais e encontros literários, como a FLIP (Festa Literária Internacional de Paraty), Sempre Um Papo, Fórum das Letras, Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo, Feira do Livro de Ribeirão Preto e Feira do Livro de Porto Alegre, entre vários outros. Faz também palestras e oficinas sobre reportagem para estudantes de jornalismo.
Eliane Brum teve seu trabalho reconhecido por dezenas de premiações e distinções no Brasil e no Exterior. Entre elas, estão o Prêmio Esso, Vladimir Herzog, Ayrton Senna, Líbero Badaró, Sociedade Interamericana de Imprensa e Rei de Espanha. Em 2008, recebeu o Troféu Especial de Imprensa ONU, “por tudo o que já fez e vem realizando em defesa da Justiça e da Democracia”. Foi quatro vezes reconhecida, em votação da categoria, com o Prêmio Comunique-se. Por cinco vezes ganhou o Troféu Mulher Imprensa. Recebeu três vezes o Prêmio Cooperifa, “por ajudar, com suas ações, a construir uma periferia melhor para viver”, e o Prêmio Orilaxé, do grupo AfroReggae, concedido a pessoas e entidades que, com seu trabalho, têm conseguido “mudar a realidade, melhorando a qualidade de vida das pessoas e do planeta”. Em 2021, a importância de sua carreira jornalística foi reconhecida pelo Prêmio Maria Moors Cabot.