Atingidos pela hidrelétrica, seres humanos vivem alagados por água podre na cidade de Altamira, num cenário pós-apocalíptico
Marlene acorda na madrugada. Ela teve um pesadelo. Um de seus netos morria afogado no lago. Quando acorda, ela já sente o cheiro de esgoto. Sacode Carlos, que dorme ao seu lado. “Carlos, alagou.” O marido está esgotado pelo dia de trabalho. Ele pinta casas que não alagam. “Você tá sonhando.” Marlene não está. Ela bota o pé para fora da cama e pisa. O frio da água molhando o pé lhe provoca um horror silencioso. Naquele momento o horror é só dela. “Eu não sei nadar”, é o que Marlene pensa sem parar. “Eu nunca aprendi a nadar.” Ela então repete. “Alagou, Carlos.” Carlos abandona o sono para lembrar que não há pesadelo pior que a vida no Jardim Independente 1, na cidade de Altamira, no Pará.
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