De uma branca para outra

Acredito muito em cartas, porque elas pressupõem um remetente e um destinatário. Sugerem uma conversa, um convite ao diálogo. E, como uma carta é longa, ou seria um bilhete, exige que as palavras demorem ao serem marcadas. E então podemos apalpar o corpo das palavras antes de as lançarmos ao mundo.

Ao acompanhar a “polêmica do turbante”, decidi que só poderia falar sobre isso através de uma carta, porque precisava falar sobre isso com afeto. É uma carta para Thauane, para todas as mulheres brancas, para tod@s e também para mim mesma.

Nela, explico aquilo que tenho sentido cada vez mais fortemente nos meus ossos e que nomeio como “existir violentamente”.

Espero que esta carta possa atravessar os muros e chegar ao seu destino.

Marcha das Mulheres Negras em Brasília, em 2015. MARCELO CASAL JR AGÊNCIA BRASIL (Reprodução do El País)

Marcha das Mulheres Negras em Brasília, em 2015. MARCELO CASAL JR AGÊNCIA BRASIL (Reprodução do El País)

O turbante e o conceito de existir violentamente

Thauane,

 

O episódio relatado por você e a repercussão do seu relato são tudo menos uma banalidade. Ambos contam de um momento muito particular do Brasil no que se refere à denúncia do racismo. Um momento que, por sua riqueza, não pode ser interditado por muros. É por isso que decidi escrever minha coluna pública como uma carta para você. Porque não poderia falar de você como “a branca do turbante”, apenas. Sim, você é branca. E você colocou um turbante. Mas você também é Thauane, uma mulher e suas circunstâncias. E, assim, a carta é o gênero com que posso melhor expressar meu afeto.

Leia o texto completo na minha coluna no El País

Sobre racismo e temas relacionados, leia também:

25/05/2015
No Brasil, o melhor branco só consegue ser um bom sinhozinho

04/06/2015
O Debate

22/06/2015
“Mãe, onde dormem as pessoas marrons?”

31/08/2015
Um negro em eterno exílio

20/06/2016
O golpe e os golpeados

17/08/2015
Quando a periferia será o lugar certo, na hora certa?

29/08/2016
A merda é o ouro dos espertos

16/05/2016
A Casa Grande de Temer tem as bênçãos de Sarney e Malafaia, o velho e o novo coronel

01/02/2016
Quem precisa da Barbie, tenha o corpo que tiver?

28/09/2015
ECA do B

13/10/2014
O vírus letal da xenofobia

07/07/2014
Sobre Zúñiga, Neymar e “macacos”

23/12/2013
Os novos “vândalos” do Brasil