Humilhar e ignorar professor pode. Sufocar e ferir não

Amigos,

Minha coluna no El País desta quinzena é sobre o massacre de Curitiba. Se o repúdio nacional à violência contra os professores dá esperança, também me deixou um pouco perturbada. Afinal, que limite mais sem-vergonha esse nosso. E são os limites que falam de uma sociedade. Então, reflito sobre os porquês. Afinal, inclusão social no Brasil é entrar no barco dos que se consideram a salvo. Matricular filho na escola privada sem perceber que, se a escola privada é um reprodutor de privilégios, é também um reprodutor de ignorâncias. Cabe aos mais pobres ascender social e economicamente para virar cliente, não cidadão.

Penso também sobre o jogo do visível e do invisível. Neste sentido, precisamos olhar mais para Geraldo Alckmin do que para Beto Richa. Aliás, sobre Alckmin deveriam estar sendo escritos alguns tratados de ciência política.

Bem, lá vou eu me estendendo. Aí vai ela.

Humilhar e ignorar professor pode. Sufocar e ferir não

 

O que se pode infligir a um educador sem causar indignação aponta o tamanho do buraco da educação pública no Brasil

– “Eles estão atirando em nós”.

A frase atravessa vídeos sobre o massacre dos professores, executado pela Polícia Militar do Paraná a serviço do Governo de Beto Richa (PSDB), em 29 de abril. Professores desmaiam, professores passam mal com as bombas de gás lacrimogêneo, professores são feridos por balas de borracha. Um cão pit bull da PM arranca pedaços da perna de um cinegrafista. Há sangue na praça de Curitiba, diante da “casa do povo”, a Assembleia Legislativa do Estado. Ao final, há cerca de 200 feridos. Mas mais do que as imagens, é essa frase anônima, em voz feminina, que me atinge com mais força. Porque há nela uma incredulidade, um ponto de interrogação magoado nas entrelinhas e finalmente a compreensão de ter chegado a um ponto de não retorno. Depois de ser humilhada por baixos salários, depois de dar aula em escolas em decomposição, depois de ser xingada por pais e por alunos, agora a PM também podia atirar nela. E atirava. E, se as bombas de gás, as bombas de efeito i-moral não matam, pelo menos não de imediato, a sensação é de morte.

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