Jair Bolsonaro: a sobrevivência da espécie nas mãos de um de seus piores espécimes

A guerra climática em curso na Amazônia não tem poder atômico, mas pode acabar com a humanidade

Una imagen aérea muestra un árbol solitario en una zona deforestada cerca de Porto Velho, Rondonia, en agosto de 2020. UESLEI MARCELINO (REUTERS/Reprodução do El País)

Una imagen aérea muestra un árbol solitario en una zona deforestada cerca de Porto Velho, Rondonia, en agosto de 2020.
UESLEI MARCELINO (REUTERS/Reprodução do El País)

No passado, o Brasil era visto como o país do futuro. Hoje, o Brasil se tornou o país que pode tornar a humanidade sem futuro. Não parece que a comunidade global tenha compreendido essa realidade evidente, fora aqueles que acompanham a agenda do clima como prioridade. Tivesse compreendido, a guerra climática que se desenrola neste momento na Amazônia e no Brasil dominados por Jair Bolsonaro seria tratada com tanto destaque quanto a guerra movida pela Rússia de Vladimir Putin contra a Ucrânia. Mesmo a imprensa brasileira, que em grande parte ainda não compreendeu que o Brasil se tornou a periferia da Amazônia, dá mais destaque para a guerra contra a Ucrânia do que o que se passa simultaneamente no Supremo Tribunal Federal e na floresta. Esta é, afinal, a época em que a velocidade dos fatos e das mudanças é maior do que a capacidade da mente humana de se adaptar e responder à catástrofe que parte de sua espécie provocou – e segue provocando.

O Brasil vive um momento muito particular, que seria apenas uma maldição cavada pelos próprios brasileiros, não fosse o fato de o país ter 60% da maior floresta tropical do mundo em seu território. Como tem, a catástrofe em curso se torna uma tragédia global sem precedentes. Alguns dos mais destacados cientistas do clima afirmam que a floresta amazônica chegará ao ponto de não retorno quando entre 20% e 25% do seu território estiver destruído. Neste momento, a floresta já está devastada em 20%. Qualquer um pode chegar à óbvia conclusão sozinho.

Ao mesmo tempo, na última segunda-feira, novo relatório do Painel Intergovernamental do Clima (IPCC), das Nações Unidas, mostrou que, para termos chance de limitar o superaquecimento global em 1,5 grau ou mesmo 2 graus, o limite de crescimento das emissões seria o ano de 2025. Isso significa que temos três anos para evitar uma catástrofe climática ainda maior. Sem a Amazônia atuando como floresta na regulação do clima e na absorção de carbono, há escassas chances de alcançar qualquer controle. Dada a velocidade com que Bolsonaro e seu governo destroem a Amazônia, é possível que em 2025 a floresta já seja em grande parte passado.

Conscientes de que estão no palco do maior desafio global, o Supremo Tribunal Federal do Brasil iniciou, em 30 de março, a votação de um pacote de sete ações climáticas, a maioria envolvendo a Amazônia. A corte brasileira busca fazer frente a uma escalada de destruição que aumentou o desmatamento em 138% nas terras indígenas e em 130% nas unidades de conservação durante os três primeiros anos de governo, comparado aos três anos anteriores. Estas áreas, por serem protegidas pela Constituição, são justamente “áreas de segurança do clima”, como enfatizou Maurício Guetta, advogado do Instituto Socioambiental, em sua sustentação oral no STF. E estão sendo destruídas por uma série de ações e omissões calculadas de Bolsonaro, da qual tem se beneficiado várias corporações da Europa e da América do Norte.

A tragédia para o qual o mundo demora a acordar é que a sobrevivência da espécie está nas mãos de um de seus piores espécimes. Se os ministros da Suprema Corte do Brasil se mostrarem à altura de sua responsabilidade histórica, Bolsonaro encontrará uma barreira. Não será suficiente, porém, para barrar seu projeto de destruição caso ele seja reeleito em outubro. Desde a redemocratização do país, todos os presidentes que terminaram o primeiro mandato se reelegeram, sem exceção. Neste momento, Luiz Inácio Lula da Silva segue na liderança das pesquisas, mas a diferença entre os dois já começou a cair. Que a recente vitória de Viktor Orbán na Hungria sirva de alerta: quanto mais as democracias liberais hesitam, mais avança a extrema direita fascista. Se Bolsonaro se reeleger, a Amazônia será riscada do mapa global. A guerra climática não é atômica, mas tem poder para condenar a humanidade à extinção.

Leia no El País (somente em espanhol)