Netos de sobreviventes do Holocausto ampliam a verdade ao investigar o passado com a coragem que seus pais não puderam ter
Arnon Goldfinger vai limpar o apartamento de sua avó, Gerda, que morrera dias antes em Tel Aviv, e descobre que ela e seu avô, Kurt, mantiveram antes e depois da II Guerra, antes e depois do Holocausto, uma amizade calorosa com um casal de alemães. Não um casal qualquer, mas um encabeçado por um eminente oficial nazista. Claudia Ehrlich Sobral viaja para tirar dois dias de folga e assistir ao jogo do Brasil na Copa de 2006, na Alemanha, mas não consegue permanecer depois da partida. Ela antecipa o retorno a Roma por não suportar conviver com a ideia de que os pais e avós daquelas pessoas nas ruas mataram 6 milhões de judeus. Para Ben Peter, só restou Miriam, a avó de 96 anos. E com ela 1 milhão de negativos de fotografias feitas pelo avô, Rudi, que documentam em imagens a história do Estado de Israel. Agora, a loja de fotografias que guarda essa memória será demolida em Tel Aviv.
Como lidar com a memória que você não viveu – mas viveu? Essa questão tem sido respondida de forma fascinante pelos netos dos sobreviventes do Holocausto, através do cinema de documentário. Às vezes também pelos filhos, como no excelente “Seis milhões e um”, sucesso de público no Festival de Amsterdã do ano passado, sobre o qual já escrevi aqui. Mas, em geral, os filhos se descobrem paralisados pelo impacto da memória que não se fez memória, mas é carne aberta em uma vida cotidiana na qual o horror é também sobreviver ao horror. Ou se veem paralisados pela negação da memória, como a mãe de Arnon, que conheceremos mais adiante. Os netos, pelas razões óbvias, parecem mais inteiros para remexer pedaços.
As histórias do início deste texto são contadas em três documentários, que acabaram de ser exibidos no 16 Festival de Cinema Judaico, em São Paulo. Como lidar com a memória é uma questão de todos nós. O que torna esses documentários – ou esse modo de lidar com a memória – dignos de serem vistos é a coragem dessa geração, desses netos, de não fugir das contradições. Assim como sua capacidade de ampliar as nuances tanto quanto possível.
É muito claro que os judeus são as vítimas do Holocausto – e os nazistas, os algozes. Mas há um universo de questões para além desse fato incontestável. E são elas que os netos dos sobreviventes têm nos proposto, numa colaboração inestimável à compreensão do processo histórico – e da delicadeza da alma humana, mesmo quando varada pelo horror. É essa geração que, pelo menos no cinema, está adicionando camadas de complexidade a um dos acontecimentos mais brutais da História da humanidade.
A seguir, uma reflexão sobre esses três olhares novos, para pensarmos juntos sobre como ecoam em nós, judeus e não judeus.
O Apartamento
Este extraordinário documentário começa com filhos e netos entrando alegremente pelo apartamento deixado por Gerda Tuchler para “limpá-lo”. “Estes persas não têm valor nenhum”, é uma das primeiras frases da mãe de Arnon, ao examinar os tapetes. Logo percebemos que nada ali parece ter valor nem para ela, nem para nenhum dos outros. Objetos são jogados em sacos de plástico e móveis inteiros são atirados pela janela, estatelando-se vários andares abaixo. Aquela memória não tem valor algum – é lixo. Por quê? Talvez os descendentes pressintam que há algo de incongruente naquela aparência, ou veem só aquilo que lhes fora dado para ver: um passado sem história.
Gerda havia emigrado com o marido para a Palestina, em 1936, pouco antes da II Guerra (1939-1945), quando Hitler aumentava cada vez mais as restrições aos judeus. Desde então, vivera em Israel como se ainda estivesse em Berlim, transformando aquele apartamento em seu pedaço particular da Alemanha. Ao morrer, com 98 anos, praticamente não falava hebraico, só alemão. Conversava em inglês com Arnon, seu neto que gostava de livros. Conversava em uma língua neutra. Mais tarde, no curso da filmagem, Arnon lembraria que nunca haviam falado nada “realmente importante”. Ao começarem a examinar os documentos de Gerda, Arnon e a mãe descobriram que seria mais difícil “limpar” a memória do que parecia a princípio.
Arnon descobriria que seus avós, judeus cultos e de boa posição social (Kurt havia sido juiz na Alemanha), tinham viajado pela Palestina, nos anos 30, com um casal de alemães. Arnon ficou curioso, porque nunca ouvira falar desse assunto nos jantares de família. Logo, ele descobriria fotos e cartas mostrando que a amizade entre os dois casais havia continuado por muito tempo depois do fim da guerra, com visitas periódicas de seus avós à Alemanha e viagens conjuntas de férias.
Mas quem eram os Mildenstein? Arnon acha uma pista. Liga para um telefone e, do outro lado da linha, encontra a calorosa filha do casal alemão. Ao contrário dele e de sua mãe, ela conhece muito bem os Tuchler, sobrenome dos avós de Arnon. Conviveu bastante com eles, têm recordações e presentes para comprovar. Está feliz de ter contato com a família dos grandes amigos de seus pais.
Arnon cruza o oceano e é recebido pela filha dos Mildenstein. É ela quem começa a lhe contar a história. Mas é só um pedaço da história, o quebra-cabeça está longe de ser completado. Arnon sabe disso. Para a filha, o pai era um homem que gostava de judeus, que havia se recusado a colaborar com o nazismo – e a prova disso era a sólida amizade com os Tuchler. Mas onde estaria o resto da verdade?
Arnon começa a investigar – voltar atrás já não é possível. Pessoas, documentos, arquivos. Sua mãe é levada a reboque, hesitante, quase a contragosto. Ao final, Arnon prova que o barão Leopold Von Mildenstein, que teve uma carreira como executivo da Coca-Cola no pós-guerra, trabalhara no famigerado Departamento de Propaganda de Goebbels. E fora um dos mentores da política que levou os judeus aos campos de concentração. Morreu sem ter respondido por seus crimes, como tantos que conseguiram se ocultar nas franjas dos interesses da Guerra Fria, alguns deles protegidos pela CIA. Arnon descobriu também que sua bisavó, a mãe de Gerda, uma mulher chamada Susanne Lehmann, fora enviada para um campo de concentração, onde morrera. Como tantos judeus alemães, ela se recusara a emigrar com a filha, por não acreditar que “o seu país” pudesse lhe causar mal. “Acho que eu nem a conheci”, diz a mãe de Arnon no início do filme. Antes de descobrir fotos com Susanne – e cartas jamais entregues onde ela contava da saudades que sentia da neta.
Por quê? Esta é a pergunta com que Arnon tem de lidar. Por que Gerda e Kurt apagaram a memória da mãe assassinada em um campo de concentração e continuaram a ser amigos íntimos de um nazista? “Um nazista podia odiar os judeus, como política de Estado, sem que isso o impedisse de ter relações com um judeu culto, de seu nível social. Assim como para um judeu, podia ser importante, para ser capaz de seguir vivendo depois do que aconteceu, saber que existiam alemães que não queriam tê-los expulsado de seu próprio país, que não os odiavam” – disse a Arnon um acadêmico especializado em estudos do Holocausto.
É uma explicação possível – mas é também uma verdade capenga ou uma mentira com a qual é possível conviver como verdade. Arnon sabe disso. Sabe também que jamais saberá. Mas chegou à encruzilhada: como lidar com a memória? No caso dele menos óbvia, mais espinhosa. Ele diz algo mais ou menos assim (no escuro, não dá pra anotar as palavras exatas): “Talvez eu nunca saiba o porquê de meus avós manterem uma amizade com nazistas. Mas agora preciso decidir o que eu vou fazer com essas informações”.
Arnon volta à casa bucólica da calorosa filha dos Mildenstein, em uma cidadezinha de contos de fadas onde parece que o mal jamais terá permissão de entrar. Ele volta para fazer o que considera certo, “em nome da amizade”, mas o fato é que volta como um anjo vingador. Devolve à mulher um horror que lhe pertence, mas que ela fingiu desconhecer ou não pôde ver. Seu pai foi um nazista, é o que Arnon diz a ela. Seu pai foi um criminoso. Como eu, você vai ter de lidar com isso. A amizade que nunca poderia ter acontecido é encerrada pelos descendentes. E a contradição é exposta às milhares de pessoas que assistirão ao documentário. Agora, todos têm suas marcas expostas – também a filha do nazista.
Há duas figuras trágicas na história real contada por Arnon com indiscutível coragem: as filhas, seja dos sobreviventes, seja do algoz. Uma é a filha do barão Mildenstein, que agora terá de lidar com o estigma de ser filha de um nazista, sem ter sido culpada pelos crimes do pai. A outra é a mãe de Arnon, durante todo o filme apatetada com uma memória que não foi buscar, mas que seu próprio filho a obrigou a encontrar. Vítima tanto da mãe quanto do filho. Mas o filho, pelo menos, ao restituir a complexidade da verdade, dá a ela a chance de deixar de ser apenas vítima. Essa mulher vive em Tel Aviv, em um apartamento no qual tudo é novo e impessoal, dos móveis à decoração, sem vãos onde coisas possam ser ocultadas. Como a memória lhe foi negada pela mãe, ela é uma página vazia. Sem passado, vaga a esmo. O que farão agora essas mulheres quebradas? O que farão agora que o frágil alicerce sobre o qual estruturaram suas vidas foi ao chão?
O que Arnon faz, com o ímpeto da geração que veio bem depois do cataclisma, é mostrar que não há como limpar a memória. Em algum canto do apartamento atulhado que é a nossa vida, verdades incômodas nos espreitam. E há esqueletos mesmo em armários supostamente insuspeitos. Não há como limpar a memória, mesmo quando ela foi empilhada em blocos bem arrumadinhos – seja por um indivíduo ou um grupo, ou mesmo pelo Estado. Há que se encontrar um jeito de lidar. E, em geral, ele passa por desarranjar o prédio inteiro para descobrir as partes que faltam. Ou apenas para constatar a falta. E viver com ela.
Os Fantasmas do Terceiro Reich
A forma que Claudia Ehrlich Sobral encontrou para lidar com o mal-estar que sentiu na Alemanha foi escutar não a dor dos judeus – mas a dos alemães. Não a dor dos descendentes de sobreviventes do Holocausto, como ela, mas a dos descendentes dos nazistas. Seu documentário, feito para a televisão no formato padrão, revela que há dor – e muita – do outro lado. Diferentemente da filha de Mildenstein, que conseguira dar um jeito de desconhecer os demônios do passado, os personagens reais encontrados por Claudia convivem com a dor há muito – e dois deles deram soluções radicais à descoberta de que o pai ou o avô era a versão mais aproximada de um monstro. Seus personagens são o que talvez a filha de Mildenstein tenha se tornado depois do encontro com Arnon Goldfinger.
Ursula Boger voltou um dia da escola contando em casa que a professora falara do que acontecera com os judeus em Auschwitz. “Seu avô esteve em Auschwitz”, foi tudo o que lhe disse a mãe. Ela então inicia um profundo mergulho na escuridão para descobrir que seu avô tinha sido o inventor de um dos piores métodos de tortura aplicado nos campos de concentração – aquele em que um judeu era pendurado, com pés e mãos amarrados, e espancado. O rosto devastado de Ursula é mais contundente do que qualquer uma de suas palavras. Quando você descobre que seu avô foi um dos piores criminosos da História, com quem você compartilha vergonha e dor? Ursula repete várias vezes o quanto é brutal a sua solidão.
Bernd Wollschlaeger, filho de um tenente-coronel nazista que viveu sem responder publicamente por seus atos, lidou com a culpa pelos crimes do pai rompendo com todos os vínculos concretos e simbólicos que o ligavam a ele. Bernd, que vinha de uma longa linhagem de oficiais condecorados do exército alemão, converteu-se ao judaísmo, emigrou para Israel e tornou-se um oficial-médico do exército israelense. Tornou-se em tudo o avesso do pai, encarnou o pior “inimigo” do pai – e nunca mais o viu. O que possivelmente tenha significado uma pena pior do que a morte para o ex-oficial da SS que nunca demonstrara qualquer arrependimento.
Bettina Göring foi talvez ainda mais além. Ela é sobrinha-neta de Hermann Göring, o segundo homem na linha de comando do Terceiro Reich, o que significa carregar um dos mais terríveis sobrenomes do nazismo. Até se matar com uma cápsula de cianureto no dia anterior ao seu enforcamento, em 1946, Göring fora um orador eloquente, que apreciava frases de efeito. Tanto que disse ao seu carcereiro que morreria, mas permaneceria na História. O que de fato aconteceu, mas possivelmente jamais como imaginara. Mas a frase do tio-avô que ecoaria em Bettina seria outra: “Os cromossomos são coisas engraçadas. Hereditariedade é mais importante do que ambiente. O gene pode saltar uma geração, e a criança nascer mais parecida com o avô do que com o pai”.
Temerosa de legar o monstro que poderia carregar dentro de si, Bettina se submeteu à esterilização. E cortou a linha de descendência. À custa de uma parte de si, “matou” o tio-avô muito além de uma vida. Para lembrar o que jamais será esquecido, Bettina Göring eliminou a memória que para ela era a mais ameaçadora – a genética.
Depois de alcançar a humanidade daqueles que antes lhe causavam náusea, Claudia pôde passear em paz pelas ruas da Alemanha. Em seu documentário, ela emprestou carne à frase famosa de Elie Wiesel, sobrevivente do Holocausto e Prêmio Nobel da Paz: “Os culpados são os culpados. Os filhos dos culpados não são culpados”.
Mas é o filho de um sobrevivente judeu que diz a frase mais redentora do filme. Samson Munn promove encontros na Áustria entre descendentes de nazistas e descendentes de vítimas do Holocausto – “porque nossas raízes foram cortadas com nossos pais e avós, e eles temem que suas raízes estejam envenenadas”. O que Samson diz de muito especial é: “Não me interessa alinhar-me com os judeus. Me interessa alinhar-me com a humanidade inteira.”
A Vida Através das Fotos
– Quanto tempo faz, Ben?
– Muito tempo.
A pergunta é feita por Miriam Weissenstein, a avó. Ben é o neto. Ambos testemunham a retirada de uma gigantesca foto na qual uma mulher jovem, sorridente, de coxas bonitas, é imortalizada num passo de dança sem passo. O chão não é tocado, o corpo inteiro da mulher está no ar, desafiando a lei da gravidade, mas também o tempo. É Miriam esta mulher. Ou já foi Miriam. Ela agora tem 96 anos, e a loja de fotografias está sendo demolida, desalojando 1 milhão de negativos que documentam a história do Estado de Israel. O velho prédio dará lugar a um novo na cidade de Tel Aviv. Ben e Miriam perderam a batalha pela geografia de suas lembranças. E estão ali, assistindo ao desmonte da memória.
A tragédia dessa cena está toda no olhar de Miriam. Ela vê arrancarem da vitrine a si mesma em movimento. Esta outra de si que só sobrevive ali naquela foto. A Miriam que vê arrancarem sua versão mais jovem e potente está numa cadeira de rodas. Mas é esta Miriam gasta pelos anos que ainda faz a roda da vida girar. A jovem morreu, restou na foto. A velha a acolhe.
Toda a vida de Miriam e de seu marido, o fotógrafo Rudi Weissenstein, foi documentar em imagens a construção do Estado de Israel. O que significa que toda a vida deles foi se assegurar – e assegurar aos outros – que Israel existia. De repente, ao fim desse caminho, esta história, que era presente, passa a ser passado. Merece exposições e homenagens pela Europa, mas não merece mais o seu lugar concreto naquela rua de Tel Aviv. Apesar de toda a luta de Miriam e do aliado que lhe restou, o neto Ben, é preciso dar lugar a um novo prédio de gosto duvidoso.
Qual é a velha Israel colocada abaixo? E qual é a nova que surge sobre seus escombros? Falta-me conhecimento para responder, mas acho a pergunta das mais interessantes.
Talvez, apesar de todas as dificuldades e contradições que acompanhamos pelo noticiário, já exista ali uma crença na continuidade da vida que permita destruir para construir outra coisa – algo que, para a geração de Miriam, aquela que precisou construir um país, seja impossível compreender. Ben, ao contrário, pode mudar todo o acervo para bem perto dali, no novo espaço reservado, sem ter a sensação de que algo de essencial se perdeu na troca de endereço.
Para Miriam, só há um endereço. A vida toda se justifica pela construção deste endereço. Para Ben, graças ao que a geração de Miriam construiu, as possibilidades são múltiplas. Afinal, quando a geração de Ben faz seus documentários, o que está fazendo é dar um novo endereçamento à memória. A reconstrução ou recriação pode partir da destruição ou da desconstrução, dependendo do sentido que cada um dá. O certo é que a construção não pode ser monopólio da primeira geração – nem das que virão depois, com suas diferentes atribuições de sentido. Um sentido único, permanente e inquestionável é um tipo de morte.
Entre os três documentários, este, dirigido por Tamar Tal, é o mais delicado. Porque se propõe a algo que para alguns é menor, mas que de forma nenhuma é. Se Miriam contém em seu corpo consumido toda a história de Israel e de sua geração, o neto resgata a necessidade da continuidade da vida em seus pequenos atos. Em nenhum momento do filme há menção ao que fez Miriam migrar da Tchecoslováquia para Israel. A tragédia que une avó e neto não é a do Holocausto, mas uma mais prosaica, ainda que pavorosa. A filha de Miriam, a mãe de Ben, foi assassinada pelo marido, que depois se suicidou. De certo modo, avó e neto lidam com o drama humano universal enquanto tentam dar um novo lugar ao legado histórico de uma nação construída a partir do sangue, sobre sangue – ainda hoje. E é a geração de Ben que decidirá os próximos capítulos.
É verdade que, ao testemunhar a demolição de sua loja de fotografias, Miriam testemunha a mudança do país que ajudou a construir. Mas é também verdade que ao ver a jovem que ela foi ser retirada como fotografia da vitrine que não mais existirá, ela também está às voltas com a velhice do próprio corpo. Neste caso, as ruínas da loja já estão dentro dela há muito, em seu corpo destruído pelo tempo.
São muitos os simbolismos desse filme. Mas talvez o mais importante deles seja o de que a vida só vence, de fato, se for capaz de tecer uma teia de pequenos afetos cotidianos.
Prosaicos, talvez, mas fundamentais. É nos vãos amorosos das discussões travadas, das constantes implicâncias e dos olhares que escapam entre Miriam e Ben que sabemos que a vida se impôs.
Como lidar com a memória do horror, afinal? Se na História é fundamental mantê-la viva, para que o horror jamais seja esquecido e repetido, na existência individual, íntima e cotidiana, na vida que segue, é preciso encontrar aquilo que faz viver. Ou então só há um estado de morte no qual restamos congelados, que é um outro tipo de campo de concentração. Para vencer é preciso amar –apesar de todas as peças que faltam. E amar, muitas vezes, significa remexer nos cacos para criar um novo sentido com a verdade possível. Tanto a verdade quanto o sentido sempre aquém, sempre incompletos. Sempre fascinantes.
(Publicado na Revista Época em 13/08/2012)