A espetacular Copa de 2014

Nessa Copa de 2014, no Brasil, acompanhei a seleção brasileira a convite da Folha de S. Paulo. Foi minha estreia, como repórter, no futebol e na Copa. No total, foram 12 reportagens no jornal impresso, na contracapa do Caderno da Copa, e outras sete matérias menores, no site. Às vezes apenas pequenas cenas, entre a Granja Comary, em Teresópolis (RJ), e as várias cidades em que o Brasil jogou: São Paulo, Brasília (duas vezes), Fortaleza (duas vezes) e Belo Horizonte (duas vezes). Estive também na partida final, entre Argentina e Alemanha, no Maracanã, no Rio de Janeiro. Escrevi ainda dois artigos na minha coluna quinzenal de opinião no El País. Nessa trajetória vertiginosa, busquei cobrir a seleção fazendo o que acredito ser o papel de um jornalista, independentemente da área em que atua, que é produzir documento histórico sobre a sua época.

Meu desafio era contar a seleção, numa Copa no Brasil, pelas margens. Dividi meu trabalho de reportagem em duas linhas narrativas. Chamo a primeira de “brasilidades”, na qual procuro compreender o futebol e o Brasil de 2014 a partir do olhar e das tensões de brasileiros menos visíveis.

Na segunda, conto as relações da corte e da torcida no entorno da seleção. Meu foco, nesse caso, é a produção do espetáculo no futebol de mercado – e os momentos sublimes em que a vida escapa, reconvertendo o produto em homem, ou “denunciando-o” como homem. A grande perda de colocar o espetáculo no lugar da realidade, ou a publicidade no lugar do jornalismo, como aconteceu vezes demais, é que o espetáculo é imensamente inferior à realidade. A realidade foi espetacular, o espetáculo foi medíocre.

Essa foi uma Copa extraordinária. Não só pela qualidade dos jogos das seleções de vários países, mas, especialmente, pela derrota monumental da seleção brasileira. Como se sabe, a vitória tem muito pouca graça na literatura e no cinema, o mais rico é sempre a derrota. Na reportagem, acredito que vale o mesmo princípio. Há muito para escrever sobre a seleção brasileira nessa Copa fabulosa, com tantos sentidos ainda por serem decifrados, tantas histórias à espera de quem as conte. Apenas começamos.

No meu caso, esse conjunto de reportagens assume o risco de narrar enquanto o jogo está sendo jogado, o que é, ao mesmo tempo, a dificuldade e a graça do jornalismo. Acredito que agora há o desafio de aprofundar essa narrativa, a das várias realidades desse épico trágico, com o distanciamento necessário. E devolver o extraordinário à vida.

Ao futebol.

FOLHA DE S.PAULO

BRASILIDADES

Deus e outros nomes
http://folha.com/no1467195
9/06/2014

O complexo de vira-lata, em prosa e latido
http://folha.com/no1468969
12/6/2014

Fortaleza no pé: Garoto dribla a morte e joga Copa das crianças de rua
http://folha.com/no1471524
17/6/2014

Endereço: Brasil
http://folha.com/no1474719
23/6/2014

O PM e o militante
http://folha.com/no1477892
28/6/2014

Quando o futebol é travessia: um homem, um país
http://folha.com/no1480892
04/07/2014

O ESPETÁCULO, A CORTE E A TORCIDA

O espetáculo começa só depois que o homem comum deixa o palco
http://folha.com/no1473242
20/06/2014

Se quiser entender a torcida, siga a câmera
http://folha.com/no1475786
25/06/2014

Zona controlada
http://folha.com/no1479626
02/07/2014

Deus e o diabo na terra do gol
http://folha.com/no1482643
08/07/2014

O Brasil do eu acredito
http://folha.com/no1484266
11/07/2014

O insustentável peso da camisa
http://folha.com/no1485656
14/07/2014

CENAS E MOMENTOS

Comunidade pobre ao redor do Castelão assistiu à ‘elite’ desfilar
http://folha.com/no1472042
17/6/2014

A bunda do Hulk
http://folha.com/no1473063
19/6/2014

Sem casa, na casa da seleção
http://folha.com/no1476208
25/06/2014

Neymar, o carneiro
http://folha.com/no1481189
04/07/2014

Torcedores veem jogo pela TV, dentro do Castelão, após terem o ingresso furtado
http://folha.com/no1481522
04/07/2014

EL PAÍS

Dilma, a vaia e o feminino
23/6/2014

Sobre Zúñiga, Neymar e “macacos”
7/07/2014