Rebeca aterrissa nas tripas de Borba Gato

Não acredito em superação. Acredito em políticas públicas. Sempre que se louva o indivíduo como produto de si mesmo, se enaltece o capitalismo que produz uma desigualdade tão abissal que nega à maioria das meninas negras a chance até mesmo de se alimentar de forma saudável. A narrativa da superação comete ainda uma violência adicional contra os já tão violentados, a de que poderiam ter sido Rebeca se tivessem se esforçado mais, a de que mães sozinhas, às voltas com o sustento e os filhos, aviltadas de tantas formas, teriam “produzido” Rebecas se tivessem se dedicado mais. Também por Rebeca e por tudo o que ela representa, porque representa, essa narrativa feita seguidamente em nome do bem precisa ser colocada abaixo como as estátuas dos assassinos. Não devemos usar Rebeca contra todas as Rebecas. Nem mesmo quando precisamos muito de boas notícias e de redenção.

(leia a coluna inteira no EL PAÍS Brasil)

A ginasta Rebeca Andrade depois de receber a medalha de ouro em Tóquio. LINDSEY WASSON / REUTERS (Reprodução do El País)

A ginasta Rebeca Andrade depois de receber a medalha de ouro em Tóquio. LINDSEY WASSON / REUTERS (Reprodução do El País)

Maria, preciso te contar sobre Bolsonaro, o fazedor de órfãos

Maria, você tem apenas 2 anos. Um, dois. E apenas esses dois anos separam seu nascimento da morte do seu pai. Lilo Clareto morreu em 21 de abril. A causa oficial da certidão de óbito é: “sepse grave, pneumonia associada à ventilação e covid (tardia)”. Mas essa é apenas a verdade parcial sobre a morte do seu pai. Eu olho para você, Maria, e me preparo para a conversa que um dia teremos, aquela em que precisarei contar a você a verdade inteira.

Maria, seu pai foi vítima de extermínio. Seu pai é um dos mais de 410.000 brasileiros que tombaram por um crime contra a humanidade entre os anos de 2020 e 2021. Enquanto eu escrevo essa carta para você, os assassinatos seguem acontecendo a uma média de quase 2.400 cadáveres por dia. Eu olho para você, Maria, e você ainda diz, os olhos escancarados de expectativa, quando alguém faz barulho na porta da frente: “pa!”. E, então, decepcionada: “pa?”.

(continue lendo a carta no site do EL PAÍS Brasil)

LILO CLARETO / ACERVO PESSOAL

LILO CLARETO / ACERVO PESSOAL

 Leia em português e em espanhol

Governo Bolsonaro decreta a morte de um pedaço da Amazônia

O governo Bolsonaro decretou a morte de um pedaço da Amazônia para favorecer a Norte Energia, empresa controlada pela Eletrobras. É muito, muito sério o que está acontecendo agora. E, é importante perceber: nem de economia esse Governo entende. Com os olhos do mundo voltados para o Brasil por conta da Amazônia, a direção do Ibama traiu seu próprio corpo técnico e, com uma canetada, deu o controle da água à Belo Monte, condenado a Volta Grande do Xingu, uma das regiões mais biodiversas da Amazônia, e seus povos. Ou a sociedade se mobiliza para impedir um ecocídio ou daremos um passo largo rumo ao ponto de não retorno.

Usina de Belo Monte, na época de sua inauguração, em novembro de 2019.MARCOS CORRÊA/PR (Reprodução do El País)

Usina de Belo Monte, na época de sua inauguração, em novembro de 2019. MARCOS CORRÊA/PR (Reprodução do El País)

Leia no El País (em português e em espanhol)

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