“O ódio deitou no meu divã”

Ele entra sem dizer uma palavra e logo começa a chorar. Pergunto o que aconteceu e ele me diz, assustado, que foi abordado por um cara da faculdade, com as seguintes palavras:

– E aí, seu viadinho de merda, já viu as pesquisas? Vai aproveitando até o dia 28 pra andar de mãozinha dada, porque, quando o mito assumir, acabou essa putaria e você vai levar porrada até virar homem.

Depois, é a menina que já entra chorando e me diz:

— Sil, me ajuda… não sei o que fazer… você não vai acreditar no que aconteceu comigo hoje… Eu estava na escola e fui pegar um livro no meu armário… Tinha uma folha de papel…

Aí ela me mostra uma foto no celular, porque entregou a tal folha na diretoria, com esta mensagem aqui:

– Achou mesmo que era só sair gritando #elenão pra parar o bolsomito, feminazi??? Perdeu, escrota!! E daqui a pouco você vai ter motivo pra gritar de verdade!!!

O relato, feito pelas redes sociais, é da psicanalista Silvia Bellintani, pouco antes do primeiro turno das eleições. Devidamente autorizada pelos pacientes, ela conta o que escutou de dois deles no seu consultório, numa mesma tarde: ele, homossexual, 19 anos; ela, heterossexual, 17 anos, feminista.

Nos últimos dias, começaram a circular posts de psicanalistas e psicólogos que decidiram levar para o debate público o que escutam no seu consultório. Sem expor os pacientes, mas apontando o que vem acontecendo na sociedade brasileira apenas pela possibilidade, bastante grande, de um homem como Jair Bolsonaro, defensor da ditadura, da tortura e da violência, assumir a presidência do país.

(Leia mais no El País)

O presidente do PSL em coletiva de imprensa no dia 7. ANTONIO LACERDA EFE (Reprodução do El País)

O presidente do PSL em coletiva de imprensa no dia 7. ANTONIO LACERDA EFE (Reprodução do El País)

Relatos de psicanalistas revelam a violência que cresce e se infiltra no Brasil com a possibilidade de Jair Bolsonaro chegar à presidência da República

Como resistir em tempos brutos

Mais uma vez o tecimento do presente foi suspenso. Mas não podemos permitir que nossos dias sejam devorados, porque, no banquete dos perversos, nossas almas é que são comidas. Há que se resistir ao devoramento das almas.

Bolsonaro após deixar o hospital em 29 de setembro. REUTERS (Reprodução do El País)

Bolsonaro após deixar o hospital em 29 de setembro. REUTERS (Reprodução do El País)

Um manual para enfrentar as próximas três semanas e transformar luto em luta

Leia no El País

 

Mulheres contra a opressão

O voto das mulheres negras pode determinar o destino de Bolsonaro. Este não é definitivamente um dado qualquer no Brasil. Há grande poder e significado nessa constatação. É bastante simbólico que seja esta a força que toda a repressão dos últimos anos do país, todos os direitos a menos, não conseguiu parar.

Reprodução Facebook

Reprodução Facebook

O maior movimento de resistência ao projeto autoritário mostra que apoiar Bolsonaro é votar a favor das forças que empobrecem o país e violentam os mais frágeis

Leia na minha coluna no El País 

 

Sem Lula, o voto vale ainda menos

La escisión entre ley y justicia agrava el momento brutal de Brasil. Formalmente todo parece suceder dentro de la ley, como apartar a la presidenta Dilma Rousseff del poder al que llegó por votación e impedir que Lula vuelva al poder por votación. Para una parte de los brasileños, sin embargo, estos movimientos dentro de la ley no suenan a justicia. Al contrario. Hacen que su voto valga todavía menos y la crisis de la democracia se amplíe. Con Lula fuera de la disputa, el favorito es el candidato de extrema derecha, Jair Bolsonaro, que muestra en cada declaración cuánto desprecia la democracia y proclama que su héroe es uno de los peores torturadores de la dictadura. No es casualidad ni coincidencia que el beneficiado por la democracia sin pueblo sea quien representa el autoritarismo sin disimulo.

(A cisão entre lei e justiça agrava o momento brutal do Brasil. Formalmente tudo parece acontecer dentro da lei, como afastar a presidente Dilma Rousseff do poder ao qual chegou por votação e impedir  Lula de voltar ao poder por votação. Para uma parte dos brasileiros, no entanto, esses movimentos dentro da lei não soam a justiça. Pelo contrário. Fazem com que o seu voto valha ainda menos e a crise da democracia se alargue. Com Lula fora da disputa, o favorito é o candidato de extrema direita, Jair Bolsonaro, que mostra em cada declaração o quanto despreza a democracia e proclama que o seu herói é um dos piores torturadores da ditadura. Não é acaso nem coincidência que o beneficiado pela democracia sem povo seja quem representa o autoritarismo sem dissimulação. )

Foto: Ricardo Stuckert/ Instituto Lula

Foto: Ricardo Stuckert/ Instituto Lula

Sin Lula, el voto vale todavía menos

Brasil se acerca cada vez más a una democracia sin pueblo

Leia no El País (somente em espanhol)

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