“Tô mandando o Joaci!”

Terça-feira, 4 de maio, 9h50 da manhã. É quase impossível pegar um táxi em São Paulo nesse horário. Eu já tinha tentado quatro pontos diferentes da vizinhança e só ouvia tu-tu-tu…. Estava atrasada para uma consulta médica. Acordo às 5h da manhã, mas estou sempre atrasada. Na quinta tentativa uma voz atendeu:
— Tem táxi?, pergunto eu.
— Quantos você quer?, ele me devolve.
— Um tá bom.
— Só um, é. Então tô mandando o Joaci.
— Tá, pode mandar o Joaci.
Desço oito andares. Está lá o Joaci.
— Pra onde?
— Rua Duartina, no Sumaré.
— Não conheço.
— O senhor tem GPS?
— Tenho não. Não preciso.
— Então olha no guia.
— Sabe o que é, eu tenho o guia, mas não enxergo.
— Como assim, não enxerga?
— Sabe o que é, meu óculos quebrou. Aí um colega me arrumou esse do Paraguai, mas não funciona. Não enxergo nadinha.
— Como o senhor dirige, então?
— Ah, mas a maioria das ruas eu conheço, fica fácil, a gente vai ali meio no automático. Sabe como é, quase 30 anos de táxi. Sempre digo pra minha mulher, tenho mais tempo de táxi que de casamento.
— Hum.
— O problema é essa rua da senhora aí, que eu não conheço. Mas preocupa não. Vou ligar lá pro ponto e eles me dizem pra onde eu tenho de ir.
Procura o celular no banco. Acha. Começa a teclar.
— Não consigo enxergar os números aqui. Será que dá pra senhora ligar pra mim?
Pego o celular. Ele dita o número. Eu teclo. Devolvo para ele.
— Ô Josimar, tô com uma mulher aqui que vai numa rua que eu não conheço. Acha no guia aí pra mim.
Sacode o telefone. Bate nele.
— Ih, o Josimar não tá ouvindo. Esse celular tá ruim. Tenho de ir lá no meu amigo do Paraguai pra comprar um novo, mas não tô achando tempo.
Eu ligo no meu celular. Passo pra ele.
— Ô Josimar, olha a rua da mulher pra mim aí. Tô com aquele óculos que não enxergo nada. Como é o nome da rua mesmo?
— Duartina.
— É Duatina.
— Duarrrrrtina.
— Sim, isso mesmo. Duatina.
— Duarrrrrrrrrrrrrrrtina.
— E o que é que eu tô falando? A senhora é meio nervosa, né?
Desisto.
— O Josimar tá dizendo que não tem Duatina não.
Suspiro.
— Não é culpa minha não, moça. É do homem que me vendeu o óculos do Paraguai. Preocupa não. Vou dar uma paradinha ali na esquina e saio pra perguntar.
Desisto de novo.
— Moço, tô muito atrasada. Vou ter de procurar um taxista que conheça a rua ou que enxergue. Ou quem sabe hoje não é meu dia de sorte e eu consigo um que enxergue e conheça a rua?
— Tudo bem, se quiser procurar outro, abre a porta aí. Mas que a senhora tá muito errada, ah isso tá. Imagina eu saindo lá da fila do ponto, com a dificuldade toda desse óculos, e agora chego aqui e a senhora não quer a corrida. É o que eu sempre digo pra minha mulher. É muito difícil trabalhar com o público.