Prêmio Comunique-se 2018: Marielle Presente!

Muito obrigada a todos que votaram em mim!

Era finalista com dois grandes jornalistas, Zuenir Ventura e Leonardo Sakamoto, que mereciam muito esse prêmio.

Como estou em São Francisco, para a Cúpula do Clima, meu agradecimento foi lido pela Carla Jiménez, diretora de redação do El País Brasil, na cerimônia de premiação, ontem à noite. Reproduzo também aqui:

Infelizmente não pude estar com vocês nesta noite porque, neste momento, estou em São Francisco, na Califórnia, para a Cúpula do Clima. Mas sei que estou muito bem representada pela Carla Jiménez, diretora de redação do El País Brasil. Queria começar justamente agradecendo à Carla e ao El País pelo respeito absoluto pelo meu trabalho. Publiquei minha primeira coluna no El País no primeiro dia do El País no Brasil e, desde então, encontrei no El País o melhor espaço para exercer o jornalismo que acredito. Tenho muito orgulho de fazer parte deste projeto que, em cinco anos, marcou uma diferença de qualidade e conquistou um lugar de independência no jornalismo feito no Brasil.

Quero também agradecer ao Comunique-se por todos os anos se esforçar para a realização deste prêmio, apesar das turbulências do país. E, principalmente, agradecer a todos que, com o seu voto, reconheceram o meu trabalho e me trouxeram até aqui.

Este é um momento brutal para o Brasil. A imagem do Museu Nacional do Rio em chamas literaliza a profundidade da nossa crise. O Brasil queima.

Estamos à beira de uma eleição em que o candidato em primeiro lugar nas pesquisas está preso e impedido pelo judiciário de disputar a eleição. E o candidato em segundo lugar levou uma facada num evento de campanha. É crescente o sentimento de que o judiciário não faz justiça, de que o voto vale cada vez menos e de que vivemos o que poderíamos chamar de democracia sem povo: a cada dia mais um direito a menos.

Num momento de crise climática, a maior relevância do Brasil no cenário internacional é ter no seu território a maior porção da maior floresta tropical do mundo. Mas desde que os ruralistas se tornaram fiadores do governo, cresce o poder da grilagem na Amazônia e os desmatadores avançam justamente sobre as áreas protegidas. Em Anapu, onde a missionária Dorothy Stang foi morta em 2005, hoje a situação é muito mais explosiva. Desde 2015, 16 camponeses foram assassinados sem que nada se mova neste país. Nas comunidades do Rio, cabeças de crianças negras têm sido arrebentadas à bala, antes e depois da intervenção. O Brasil não tem guerra, o que tem é massacre. E há séculos ele destrói os mesmos corpos: o dos negros e o dos indígenas.

A imprensa não é imune às contradições. E desempenhou um papel na atual crise. Este papel também precisa ser iluminado. Não são só os partidos que precisam fazer autocrítica. Mas o jornalismo e, principalmente a reportagem, são imprescindíveis. Não há nenhuma narrativa que possa substituir a reportagem como documento sobre a história em movimento. E o que se espera de nós é que sejamos capazes de resistir e fazer reportagem no momento em que, por todas as razões, é mais difícil fazer reportagem.

Estou na Cúpula do Clima e não aqui para, junto com um grupo de jornalistas e com o Centro Pulitzer, lançar um fundo global para financiar reportagens de profundidade na Amazônia e fortalecer o jornalismo local feito desde a Amazônia. O Brasil e o planeta só pararão de queimar quando formos capazes de voltar a imaginar um futuro onde possamos viver.

Queria terminar dizendo muito obrigada. E, o mais importante: MARIELLE PRESENTE.

 

Carla Jimenez, diretora de redação do El País Brasil, na cerimônia de entrega do Prêmio Comunique-se

Carla Jiménez, diretora de redação do El País Brasil, na cerimônia de entrega do Prêmio Comunique-se

Leia AQUI os artigos de Eliane Brum no El País Brasil 

Profissionais da violência

A reação de Mourão, o vice “faca na caveira” de Bolsonaro, aponta como o Brasil será governado em caso de vitória da chapa de extrema-direita

Bolsonaro e o General Hamilton Mourão. RAFAEL HUPSEL (FOLHAPRESS/Reprodução do El País)

Bolsonaro e o General Hamilton Mourão. RAFAEL HUPSEL (FOLHAPRESS/Reprodução do El País)

Leia na minha coluna no El País

Sem Lula, o voto vale ainda menos

La escisión entre ley y justicia agrava el momento brutal de Brasil. Formalmente todo parece suceder dentro de la ley, como apartar a la presidenta Dilma Rousseff del poder al que llegó por votación e impedir que Lula vuelva al poder por votación. Para una parte de los brasileños, sin embargo, estos movimientos dentro de la ley no suenan a justicia. Al contrario. Hacen que su voto valga todavía menos y la crisis de la democracia se amplíe. Con Lula fuera de la disputa, el favorito es el candidato de extrema derecha, Jair Bolsonaro, que muestra en cada declaración cuánto desprecia la democracia y proclama que su héroe es uno de los peores torturadores de la dictadura. No es casualidad ni coincidencia que el beneficiado por la democracia sin pueblo sea quien representa el autoritarismo sin disimulo.

(A cisão entre lei e justiça agrava o momento brutal do Brasil. Formalmente tudo parece acontecer dentro da lei, como afastar a presidente Dilma Rousseff do poder ao qual chegou por votação e impedir  Lula de voltar ao poder por votação. Para uma parte dos brasileiros, no entanto, esses movimentos dentro da lei não soam a justiça. Pelo contrário. Fazem com que o seu voto valha ainda menos e a crise da democracia se alargue. Com Lula fora da disputa, o favorito é o candidato de extrema direita, Jair Bolsonaro, que mostra em cada declaração o quanto despreza a democracia e proclama que o seu herói é um dos piores torturadores da ditadura. Não é acaso nem coincidência que o beneficiado pela democracia sem povo seja quem representa o autoritarismo sem dissimulação. )

Foto: Ricardo Stuckert/ Instituto Lula

Foto: Ricardo Stuckert/ Instituto Lula

Sin Lula, el voto vale todavía menos

Brasil se acerca cada vez más a una democracia sin pueblo

Leia no El País (somente em espanhol)

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