A delicadeza dos dias (especialmente nessas horas brutas)

Amigos,

Para mim, a frase mais louca do ano que mal começou tinha sido dita na sexta-feira, 2 de janeiro, por Guilherme Vidotto Júnior, 44 anos, advogado, numa matéria de Lígia Mesquita e Juliana Coissi sobre o movimento no litoral paulista, na Folha de S. Paulo. Ele tinha parado algumas praias antes do seu destino por causa do engarrafamento. Aí, disse o seguinte:

– Estou numa correria, queria vir para descansar e voltar ainda hoje, mas não sabia que encontraria esse trânsito.

Essa declaração é o nossos retrato, nós, os coelhos brancos da Alice, correndo sem sair do lugar. Percebam que ele está preso na “correria”. E queria ir para a praia, DESCANSAR e voltar no mesmo dia. Só o que atrapalhou foi o trânsito…

É pensando sobre isso, a partir de uma epifania da Catarina Zandonadi Caetano, minha afilhada de três anos e oito meses, que escrevi a coluna de hoje no El País. Ela, de certo modo, complementa o texto anterior, que defendia o mal-estar para nos salvar de uma vida morta. Falo de como é urgente reinventar o humano, dos pais que se esquecem dos filhos nos carros, de uma certa beleza pungente e um tanto trágica dos selfies.

Mas, preciso antes fazer um pequeno parêntese, porque já hoje há uma frase muito, mas muito mais louca. E perigosa. É de Kátia Abreu, a ministra da Agricultura com a qual Dilma Rousseff acabou de presentear o Brasil. Esta senhora afirmou em entrevista à Mônica Bergamo, na Folha de S. Paulo:

– Os índios saíram da floresta e passaram a descer na área de produção.

A latifundiária também disse o seguinte:

– Não existe mais latifúndio no Brasil.

É sério. Precisamos agradecer ao PT por essa aula de geografia e história no “Brasil: Pátria Educadora”, como foi lembrado no Twitter.

Está cada vez mais difícil acreditar na realidade, precisamos muito da ficção.

Amigos, de espasmo em espasmo, 2015 vai ser bruto. Só mesmo com muita delicadeza, do tipo que faz a gente se mover do lugar.

Com vocês, Catarina, a Grande… escrevista.

Aqui:

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catarina pb edit

Viviane Zandonadi/Arquivo pessoal