Para controlar a pandemia é preciso parar Bolsonaro: Brasil descobriu que seu presidente não é “apenas” um golpista, é também um maníaco.
El presidente de Brasil, Jair Bolsonaro, este domingo en Brasilia. SERGIO LIMA AFP (Reprodução do El País)
Leia na minha coluna no El País, na Espanha (em espanhol)
E aqui, a versão em português:
A pandemia de Covid-19 mostrou que aqueles que corrompem a verdade e falsificam a realidade precisam ser parados porque colocam em risco a sobrevivência da população. Nenhum caso global é mais notório do que o de Jair Bolsonaro, o antidemocrata que governa o Brasil. Ele já horrorizava uma parcela da humanidade pelas suas declarações racistas e pela destruição da Amazônia. No domingo, revelou-se um demente ao colocar os brasileiros em risco e desrespeitar as regras de proteção estabelecidas pelo seu próprio Ministério da Saúde. Bolsonaro juntou golpismo, negacionismo e ameaça à vida em apenas um ato.
Notório negacionista climático, Bolsonaro negou também a pandemia: durante uma visita a seu ídolo Donald Trump, afirmou que era uma “fantasia” da mídia . Em quarentena por ter entrado em contato com pelo menos 15 pessoas cujo teste deu positivo para o coronavírus, o antidemocrata usou uma máscara para fazer uma live. Pediu que, devido à pandemia, os extremistas de direita que o apoiam suspendessem a manifestação contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal. Antes, havia estimulado e divulgado o protesto.
A maioria achou que Bolsonaro finalmente tivera um encontro inesperado com a realidade, compreendido que a pandemia é real e que seu apreço pela autoverdade poderia causar mortes também bem reais. Nada. No domingo, Bolsonaro compareceu à manifestação, num ato explícito de golpismo, e descumpriu as regras de seu próprio ministro da Saúde ao estimular a aglomeração de pessoas em plena pandemia, manipular celulares de seguidores, tirar selfies com eles e apertar suas mãos.
Além de afrontar os poderes democráticos, Bolsonaro colocou a população em risco e deu o pior exemplo que um chefe de Estado poderia dar neste momento gravíssimo. Bolsonaro fez mais: chamou de “extremismo” e “histeria” as medidas tomadas pelo seu próprio governo para controlar o vírus. Na segunda-feira, insistiu: “Esse vírus não é tudo isso”. O antiestadista ainda declarou que tinha “direito” a apertar mãos e, caso tivesse sido infectado, a “responsabilidade” era dele. “Ninguém tem nada a ver com isso”, arrotou.
A parte do Brasil que ainda não tinha entendido finalmente entendeu, em plena pandemia, que não tem “apenas” um golpista no poder, tem também um maníaco. E agora?
Como as instituições e a sociedade brasileira vão reagir diante da ameaça representada pelo déspota eleito vai determinar o futuro imediato do país. Num mundo globalizado, porém, este não é um problema apenas do Brasil. É um problema do planeta. A mesma irresponsabilidade criminosa que está acabando com a Amazônia agora coloca em risco o controle da pandemia.
O Covid-19 mostrou até que nível de perversão os negacionistas podem chegar para manter seu projeto de poder. Aqueles que negaram o risco da pandemia são os mesmos que negam a crise climática. O vírus eventualmente vai passar, deixando um rastro de mortes. A catástrofe climática só está começando.