O negacionista “sincero” pode nos levar à extinção

Nossos problemas seriam infinitamente menores se os negacionistas fossem apenas Bolsonaro e sua turma. Estamos em emergência climática, mas a maioria vive como se esse fosse um assunto paralelo. Nesta coluna do EL PAÍS Brasil escrevo para o negacionista sincero, infelizmente a maioria da população, mas que ainda pode despertar em pé e agir.

Manifestantes protestam contra o uso de combustíveis fósseis durante a a Cúpula do Clima em Glasgow, nesta quarta. YVES HERMAN (REUTERS) - Reprodução do El País Brasil

Manifestantes protestam contra o uso de combustíveis fósseis durante a a Cúpula do Clima em Glasgow, nesta quarta.
YVES HERMAN (REUTERS) – Reprodução do El País Brasil

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O rompimento do mundo dos humanos

As pessoas passaram a ler a realidade da mesma forma que leem a Bíblia.

Na minha coluna desta semana, analiso o Nobel da Paz para jornalistas a partir do rompimento da linguagem, no meu ponto de vista a principal determinante para a profunda crise que vivemos.

“O que está em jogo é algo mais profundo: uma mudança na forma de apreensão da realidade, que confronta os pilares que forjaram a imprensa e o funcionamento da sociedade moderna. Por uma série de razões, o verbo que progressivamente passou a mediar uma parcela significativa das pessoas na sua relação com a realidade é “acreditar”. Não mais os verbos iluministas do duvidar, investigar, testar, confrontar, comparar etc. Mas acreditar. É uma mediação religiosa da realidade, determinada pela fé. A crença se antecipa aos fatos, e assim os fatos já não importam. É como se as pessoas passassem a ler a realidade da mesma forma que leem a Bíblia. Esta é a razão que determina a crise da imprensa, da ciência e de outros fundamentos que constituíram a modernidade, baseados na investigação e no questionamento constante, para os quais a dúvida é que move o processo de apreensão da realidade e de construção do conhecimento sobre o mundo.
É claro que essa mudança tem relação com o crescimento de um determinado tipo de religião, no Brasil marcadamente a expansão do neopentecostalismo de mercado, através de denominações religiosas produzidas por essa fase ainda mais predatória do capitalismo. Na minha interpretação, porém, a mediação da realidade pela fé é (não só, mas) principalmente sintoma da transfiguração do planeta pela crise climática. Ainda que a maioria das pessoas não seja capaz de nomear os impactos dessa monumental mudança em suas vidas, todos estão sentindo que o mundo que conhecem se desfaz debaixo dos pés. Mesmo para aqueles que a vida cotidiana sempre foi muito dura, a dureza desconhecida é ainda mais brutal do que a conhecida. No desamparo, em que também as instituições se desfazem, resta crer. E resta crer mesmo para aqueles não religiosos, no sentido estrito. E resta crer não apenas numa religião, mas em uma realidade que, se não é real no sentido de corresponder aos fatos, se torna real para quem nela acredita. Nesta proposição, a mediação da realidade pela crença seria uma adaptação à emergência climática que, em vez de enfrentá-la, a agrava.”

O presidente Jair Bolsonaro acena a apoiadores, aglomerados em plena pandemia de covid-19, em março. JOÉDSON ALVES/EFE (Reprodução do El País)

O presidente Jair Bolsonaro acena a apoiadores, aglomerados em plena pandemia de covid-19, em março. JOÉDSON ALVES/EFE (Reprodução do El País)

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Eduardo, preciso te contar que teu pai e a Amazônia estão ameaçados de morte

Minha  carta ao filho do líder camponês Erasmo Theofilo, nascido quando a família estava escondida para não ser assassinada. Ele e sua geração não têm escolha: ou lutar ou morrer.

Depois de nascer longe de casa, Eduardo voltou à sua comunidade em Anapu, no Pará. Na foto, tirada em 20 de julho, o menino está com seu pai, Erasmo Theofilo, liderança camponesa marcada para morrer. NATALHA THEOFILO (Reprodução do El País)

Depois de nascer longe de casa, Eduardo voltou à sua comunidade em Anapu, no Pará. Na foto, tirada em 20 de julho, o menino está com seu pai, Erasmo Theofilo, liderança camponesa marcada para morrer. NATALHA THEOFILO (Reprodução do El País)

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