Quero agradecer aqui a todos que votaram em mim para o Troféu Mulher Imprensa.
As colegas que concorriam ao prêmio na categoria de Mídias Sociais são mulheres incríveis, que fazem um trabalho muito importante, e têm criado novos espaços de debate dos temas de fato relevantes desse país e também dos vários feminismos, pela via do jornalismo. Quando vi a lista de candidatas, pensei que qualquer uma que ganhasse representaria muito bem todas nós. E só isso já faria aquela ser uma “eleição” diferente. Pelo menos nela não haveria “crise de representação”.
Ter recebido o voto de vocês, como um reconhecimento do meu trabalho, é muito importante pra mim, por várias razões e também porque sou alguém que escreve textos longos na internet e que se move pelas dúvidas. Sempre defendi que a melhor notícia para o jornalismo, trazida pela internet, era a possibilidade de resgatar a profundidade no jornalismo, tantas vezes comprometida por tantas motivos e também pela escassez de papel. Muitas vezes minhas reportagens demoravam a ser publicadas porque não havia ‘páginas’ disponíveis. A disputa pelas páginas sempre foi uma disputa no campo da política, e uma disputa bem árdua para quem escolheu escrever sobre desacontecimentos e sobre aqueles à margem da narrativa.
Assim, passei parte da minha vida de repórter ouvindo que leitor não gostava de textos longos. Ou não tinha tempo para textos longos. Em seguida, a minha geração passou a ouvir que a internet era para textos curtos e imediatos. Decidi ir na contramão disso. Ocupo meu espaço, hoje principalmente no El País, com longos artigos de opinião, assim como com entrevistas de profundidade, nas quais o entrevistado pode desenvolver o seu pensamento com contexto e profundidade, e ocupo também com grandes reportagens. Hoje, a internet me dá a tecnologia para provar que, sim, os leitores leem textos longos, desde que sua inteligência e o seu tempo sejam respeitados.
Essa é uma bandeira cara para mim, como jornalista, porque é uma bandeira pelo jornalismo de profundidade. Ser reconhecida por este jornalismo, que nada tem nem de rápido nem de instantâneo nem de fácil, me dá uma grande alegria. Agradeço a cada um de vocês por me ler e por debater o que escrevo em seus espaços, concordar e discordar com respeito, fazer com que minhas palavras possam ser pontos de partida para conversas outras. Nunca foi tão importante combater o ódio com diálogo, com o reconhecimento de que o outro tem algo a dizer que pode nos mover. E vice-versa. Precisamos muito derrubar os muros da surdez e fazer pontes de palavras.
Muito obrigada pela companhia nessa conversa sem ponto final.
Confira aqui todas as vencedoras do Troféu Mulher Imprensa.