
El presidente de Brasil, Jair Bolsonaro, en el Palacio de Panalto. ADRIANO MACHADO / REUTERS (Reprodução do El País)
El presidente de Brasil, Jair Bolsonaro, en el Palacio de Panalto. ADRIANO MACHADO / REUTERS (Reprodução do El País)
A guerra da humanidade em transe climático está se passando na Volta Grande do Xingu, agora, em miniatura. Entre os que são natureza —e os que esvaziam a natureza e a convertem em mercadoria. Entre os que chamam o que é vivo de “recurso”— e os que chamam o que é vivo de “vivo”.
Para entender como o capitalismo neoliberal converte a Amazônia em um laboratório de catástrofe climática repetindo o que faz com a nossa vida todos os dias.
Árvores mortas no rio Xingu. LILO CLARETO (Reprodução do El País)
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Hoje, há 1000 dias sem Marielle Franco e Anderson Gomes, estamos juntos lembrando e fazendo lembrar, estamos juntos exigindo justiça. E, por estarmos juntos, somos mais potentes.
Somos +um+um+… O que fazemos, hoje, juntos, é dizer: não esqueceremos nem deixaremos esquecer.
Lembrar, fazer memória da execução de uma mulher, negra, LGBTQIAS+, criada na favela, que ousou fazer política no centro, desafiando os donos do poder e as milícias, é gesto coletivo de resistência. Estamos dizendo que não aceitamos mais um país em que uma parte da população é “matável” por sua cor, por seu gênero, por sua orientação sexual, por sua classe social. Estamos dizendo que o genocídio negro e indígena tem que parar. Ao pedirmos justiça por Marielle estamos pedindo justiça por Marielle, estamos pedindo justiça por Anderson e estamos pedindo justiça por todos os que foram assassinados por sua cor, por sua orientação sexual, por sua origem social, por seu gênero, por suas lutas políticas.
A investigação sobre a execução de Marielle já lançou luz sobre o crime organizado, em especial as milícias, no Rio. Identificar, julgar e responsabilizar os mandantes do assassinato de Marielle Franco vai, ao mesmo tempo, revelar ainda mais o Brasil e também mudar o Brasil.
A responsabilização ou a não responsabilização dos mandantes da execução de Marielle determinará que país seremos e também que povo seremos. O assassinato de Marielle e a nossa capacidade, como sociedade, de fazer ou não justiça, representa essa encruzilhada. Essa é uma luta entre os Brasis que acreditam que as Marielles podem continuar sendo assassinadas sempre que deixarem o lugar subalterno que foi determinado às mulheres negras e os Brasis que acreditam que é preciso acabar com o racismo estrutural ou não teremos nenhuma chance de criar um futuro possível com todos os outros. Vidas negras importam, é isso o que estamos dizendo. Estamos dizendo também, junto com a Coalizão Negra por Direitos, que enquanto houver racismo não haverá democracia.
Marielle representa as periferias que reivindicam seu legítimo lugar de centro, representa tudo o que as forças autoritárias querem silenciar e apagar – também à bala. Não permitiremos!
Meu pequeno gesto diário, há 1000 dias, é resistência. Quando eu tuíto e posto no Facebook – Quem mandou matar Marielle? E por quê? – estou fazendo o pequeno, muito pequeno mesmo, gesto de levantar meu cartaz e fincar numa esquina movimentada de mundo. Se formos milhões pedindo todos os dias justiça por Marielle, nos moveremos nesse país. Em direção à vida, em direção à equidade racial, social, de gênero. Vamos todos, juntos, perguntar todos os dias, vamos todos exigir justiça para Marielle e Anderson, vamos todos afirmar em uma só voz: nenhuma/nenhum a menos.
Precisamos falar como o partido abandonou a social-democracia, migrou para a direita e deixou amplas digitais na destruição do processo democrático. Um dos principais riscos da polarização é justamente embaralhar o que é continuidade e o que é ruptura. Neste momento, em que o PSDB, hoje um partido de direita, tenta se vender como o “centro” que um dia foi, é fundamental recuperar a perspectiva do processo histórico. A falta de responsabilização do PSDB como um dos principais agentes de destruição da democracia é um dos enigmas da atual paisagem política brasileira. Ao embarcar no discurso do antipetismo, o PSDB colaborou fortemente para colocar na conta exclusiva do PT todo o desencanto com a política e os políticos, ao mesmo tempo em que se aproximou de tudo o que Jair Bolsonaro representa e defende. O partido deixou amplamente suas digitais na corrosão da democracia cujas consequências são Jair Bolsonaro. O PSDB não é apenas mais um que tem seu DNA na mais recente escalada autoritária do Brasil. O PSDB está em sua gênese.
José Serra, João Doria e Bruno Araújo —presidente da sigla— durante a 15ª convenção do PSDB, em maio de 2019. ORLANDO BRITO /PSDB (Reprodução do El País)