Eu+1: uma jornada de saúde mental na Amazônia

Quero compartilhar com vocês um pequeno movimento muito profundo. O movimento de tornar-se Eu+1.

O projeto Refugiados de Belo Monte/Clínica de Cuidado começou com a voz de João Pereira da Silva. Expulso de sua ilha no Xingu, ele dizia do indizível. E, assim, pela transmissão da palavra, por essa coisa poderosa e transgressora que é a escuta, algo se moveu. É do seu João a voz do princípio, a voz que atinge e afeta, rompendo barreiras também no corpo daquele que se deixa tocar.

A palavra foi sendo transmitida, e a clínica de cuidado foi inventada. Mas só tornou-se ato porque 1.305 pessoas apoiaram a realização dessa clínica que se move.

Para contar desta jornada de atenção em saúde mental na Amazônia fizemos um documentário. Ele percorre um delicado itinerário pela experiência singular de cada voluntário, faz uma expedição íntima por desejos e percepções durante a atuação no território.

É um documentário singelo, feito com recursos limitados, com a lente focada na equipe. A expectativa é de que a experiência aqui documentada possa ser compartilhada e debatida nos mais variados espaços. Em casa, na sala de aula, na associação comunitária, no boteco da esquina… E, quem sabe, possa inspirar outras travessias pelos Brasis.

Cotidiano de Exceção

Como resistir?

Neste momento de tantas armadilhas, o que se infiltra nas horas é esta sensação de anormalidade que não passa. Convertida num presente contínuo, é como se o dia seguinte nunca chegasse. O risco é que, para recuperar a “normalidade”, qualquer normalidade, se aceite o inaceitável. Quanto maior for o anseio por “normalidade”, mesmo que ilusória, mais as pessoas tornam-se dispostas a conceder e a perder direitos. E é aí que mora o perigo.

Na coluna desta semana, faço uma conversa com um livro que reflete sobre a tirania. Precisamos reagir por reflexão – e não por reflexo. A melhor resistência ainda é o pensamento.

Leia o texto completo AQUI.

Cartaz da edição brasileira do livro 'Sobre a tirania' feito por Alceu Chierosin Nunes DIVULGAÇÃO

Cartaz da edição brasileira do livro ‘Sobre a tirania’ feito por Alceu Chierosin Nunes DIVULGAÇÃO

No fim do mundo de Alice Juruna tem Peppa Pig

Qual é o impacto de viver dia após dia acreditando que uma barragem pode se romper a qualquer momento e afogar toda a vida, o mundo inteiro que se conhece? E acreditando que uma nova ameaça avança sobre a aldeia em ritmo acelerado? É possível perceber que o impacto desta experiência traumática é enorme. Seria sobre qualquer pessoa. Mas como dimensionar esse impacto sobre um povo tradicional, cujo próprio dizer de si contém o rio, quando o rio que sempre foi vida se torna uma ameaça de morte? São perguntas que o Estado brasileiro e a Norte Energia um dia terão que responder diante da humanidade.

Alice Juruna, em fotografia de 2015, salta para mergulhar no rio Xingu. LILO CLARETO

Alice Juruna, em fotografia de 2015, salta para mergulhar no rio Xingu. LILO CLARETO

Impactados por Belo Monte, ameaçados por Belo Sun, os indígenas da Volta Grande do Xingu acordam a cada dia com o temor de que a catástrofe final chegará no próximo segundo

É difícil explicar o que é etnocídio. Morte cultural de um povo. Parece sempre abstrato, coisa de antropólogo. Mas Luane Alice pode nos contar como um jeito de ser e de estar no mundo morre. E contar também que é bem menos abstrato do que parece. Há menos de dois anos, em setembro de 2015, a canoa onde eu navegava na Volta Grande do Xingu alcançou Muratu, a aldeia dos Juruna. Crianças indígenas saltavam do barranco para o rio, numa alegria que há muito eu não via em crianças urbanas. De fato, talvez nunca tenha visto em crianças urbanas. Por alguns instantes, elas voavam. Foi num ponto deste voo que o fotógrafo Lilo Clareto congelou a imagem de Alice, a mais animada delas. Hoje, a imagem segue existindo como arte. E como documento. Mas a vida já não existe.

Leia o texto completo AQUI

Em foto de 24 de março de 2017, Alice (sentada) assiste a desenhos na TV, hoje principal lazer das crianças indígenas, proibidas de se aproximar do rio. LILO CLARETO

Em foto de 24 de março de 2017, Alice (sentada) assiste a desenhos na TV, hoje principal lazer das crianças indígenas, proibidas de se aproximar do rio. LILO CLARETO

 

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