Acredito muito em cartas, porque elas pressupõem um remetente e um destinatário. Sugerem uma conversa, um convite ao diálogo. E, como uma carta é longa, ou seria um bilhete, exige que as palavras demorem ao serem marcadas. E então podemos apalpar o corpo das palavras antes de as lançarmos ao mundo.
Ao acompanhar a “polêmica do turbante”, decidi que só poderia falar sobre isso através de uma carta, porque precisava falar sobre isso com afeto. É uma carta para Thauane, para todas as mulheres brancas, para tod@s e também para mim mesma.
Nela, explico aquilo que tenho sentido cada vez mais fortemente nos meus ossos e que nomeio como “existir violentamente”.
Espero que esta carta possa atravessar os muros e chegar ao seu destino.
Marcha das Mulheres Negras em Brasília, em 2015. MARCELO CASAL JR AGÊNCIA BRASIL (Reprodução do El País)
O turbante e o conceito de existir violentamente
Thauane,
O episódio relatado por você e a repercussão do seu relato são tudo menos uma banalidade. Ambos contam de um momento muito particular do Brasil no que se refere à denúncia do racismo. Um momento que, por sua riqueza, não pode ser interditado por muros. É por isso que decidi escrever minha coluna pública como uma carta para você. Porque não poderia falar de você como “a branca do turbante”, apenas. Sim, você é branca. E você colocou um turbante. Mas você também é Thauane, uma mulher e suas circunstâncias. E, assim, a carta é o gênero com que posso melhor expressar meu afeto.
Leia o texto completo na minha coluna no El País
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